EGOÍSMO E SOLIDARIEDADE (Privacidade e Segurança)

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Ninguém se salva sozinho.

Durante o recente confinamento lembrei-me, a propósito do uso das máscaras e não só, dos primeiros anos da minha vida profissional. O meu primeiro emprego foi numa das maiores empresas têxteis do Vale do Ave. Como morava no Porto ia, com vários colegas meus, nas mesmas circunstâncias, diariamente da Cidade Invicta até Pevidém, nos arredores de Guimarães. Fazia parte do entretenimento da hora de viagem tentarmos adivinhar, até chegarmos à Trofa, qual a cor com que o rio Ave se apresentaria, nesse dia.

No início dos anos oitenta a têxtil ressurgia depois de uma crise (e antes de outra) e não havia preocupações ambientais, dignas desse nome. No rio Ave e seus afluentes eram despejados os resíduos das secções de acabamento e tinturaria das inúmeras estamparias da região. Os cursos de água ficavam tão poluídos que a utilização da água, por cada uma delas tinha de ser precedida da passagem por adequadas estações de tratamento de água. Cada unidade tinha de despoluir a água que usava e despejava depois, diretamente no esgoto em direção ao mar. Com o aumento da sensibilidade social para este problema aliada à necessidade de mudar o panorama por causa da nossa adesão à então CEE foi necessário mudar o cenário. Podia parecer ser necessário um investimento brutal para, mantendo a atividade económica, alterar radicalmente o problema. Parecia mas não era tanto assim. Afinal, cada empresa têxtil tinha já uma estação de tratamento de água. Se todas, sem exceção, usassem o equipamento existente para despoluir, todos tinham acesso à água limpa e o rio Ave libertava-se, automaticamente da horrível e pesada poluição.

O mesmo se pode passar com a COVID. É óbvio que o interesse mais importante de cada um é não ser contaminado. Mas, se cada um de nós impedir contaminar quem quer que seja, ficamos todos protegidos e o ambiente à nossa volta também! É por isso que todos devemos usar máscara.

Mas isto aplica-se, igualmente a outras ações. A propósito da possibilidade de serem usados os telemóveis com a finalidade de se rastrearem, retroativamente, os contactos de alguém infetado. Tendo em vista preservar a confidencialidade, o desencadear do processo de advertência tem de se iniciar apenas a partir da informação, para o sistema de quem for diagnosticado como positivo. Todos os restantes ficarão a saber que alguém, não identificado, com quem teve um contacto próximo, está infetado com o coronavirus.

Um amigo meu, com quem discutia o assunto, disse-me que não iria aderir, mesmo garantindo os seus direitos, porque não acreditava que os outros comunicassem. Eu aderirei. Porque se for detetado como positivo, comunico. Mais do que por solidariedade... por puro egoísmo. Porque a melhor e mais eficaz forma de garantir que todos informam passa pelo compromisso de cada um informar.

Nesta situação particular, (tal como acontece com a necessária recuperação económica na união europeia) quando começar a pensar egoísta e exclusivamente em mim... nesse mesmo momento deixei de tratar do meu próprio interesse!

 

José Mário Leite