A Cegonha e a Geringonça

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Esta crónica não pretende ser uma história para criancinhas, ainda que o título o possa sugerir.

Muito se continua e vai continuar a dizer, a escrever e a fazer, mesmo depois dela se desfazer, em torno da Geringonça, a incensada coligação parlamentar resultante da colagem dos cacos das legislativas de 2015.

Geringonça que, para muitos, não passa de um fabuloso pote de bronze repleto de moedas de oiro, enterrado no fim do arco-íris embandeirado pela esquerda. De uma muito real panela de barro, para muitos mais, em que o Governo confecciona uma espécie de cozido à portuguesa, ao lume brando duma democracia afumada de muito embuste, incompetência e corrupção.

Coligação parlamentar que a mim me faz lembrar uma cegonha, aquele passarão de bico comprido e pernas longas que faz o ninho nos postes de alta tensão, que traz os bebés dependurados numa fralda descartável, voando pelos céus desde de Paris, (ou será de Bruxelas?) e que estará em vias de extinção.

Na capoeira do Regime já havia perus, pavões, galos, galinhas e frangos de aviário. Faltava a cegonha Geringonça que na história que se conta às crédulas criancinhas portuguesas trouxe, sabe-se lá de que céus ou infernos (oxalá Passos Coelho continue a não ter razão quando invocou o mafarrico) dois prometedores bebés chamados estabilidade política, um, e recuperação económica, outro.

Melhor agora se percebe quão enfezados eles são apesar de tão mimados que têm sido. Primeiro porque a celebrada estabilidade política poderá ser, se é que já o não é, sol de pouca dura, menos duradoira até que a anteriormente protagonizada por Passos Coelho e Paulo Portas, muito se devendo, para não dizer tudo, ao Presidente da República, a quem se não tem feito a devida justiça nesta matéria, já que em diversas ocasiões teve razões mais que suficientes para demitir o actual Governo, como na tragédia dos incêndios florestais ou no vergonhoso assalto aos paióis de Tancos. Outro fosse o presidente e outros galos cantariam.

Estabilidade que desde a primeira hora tem sido instrumento de chantagem do PCP e o BE, que agora ameaçam lançar o bebé à rua com a água do banho. A votação do próximo Orçamento de Estado será o tira-teimas definitivo, ainda que, na opinião dos mais categorizados analistas políticos, ninguém esteja interessado em eleições antecipadas.

 Ninguém, a não ser o próprio primeiro-ministro António Costa que poderá estar à espera de uma nova cegonha que lhe traga pelos céus eleitorais uma criancinha bem mais linda e sorridente que dá pelo nome de maioria absoluta. Ou mesmo de uma Geringonça reduzida capaz de suportar um governo de inseminação artificial com o BE, mesmo que o volante passe para as mãos da fatal ministra Catarina Martins e o BE deixe de atirar pedras às cegonhas da CEE.

Em qualquer caso, a cumprir-se o Calendário Eleitoral, os portugueses serão convocados para a eleição de uma nova Assembleia da República já em 2019, o que pressupõe um novo governo, sendo os eleitores a ditar a que tipo de nova criancinha irão os partidos dar de mamar. Falta saber, portanto, que tipo de novo governo está a cegonha do Regime a chocar.

Já no que à recuperação económica diz respeito, é hoje evidente que a criança gerada pela Geringonça não cresceu suficientemente robusta para satisfazer as ambições dos pais e dos padrinhos, apesar de todos os choques vitamínicos que a favorável conjuntura internacional lhe tem facultado.

A verdade é que os problemas fundamentais de Portugal continuam a agravar-se e a eternizar-se, não se vislumbrando mezinhas, sejam de esquerda ou de direita capazes de lhes pôr cobro.

O que nos leva a concluir que o feitiço está no Regime alienígena e nos crânios, humanóides, que o personificam.

Henrique Pedro