Ter, 13/02/2007 - 17:15
Em 1998 eram 147.777 os eleitores inscritos no distrito de Bragança, um número que aumentou para 148.904 no Referendo de anteontem. Ou seja, o Nordeste Transmontano ganhou 1.127 votantes, mesmo lutando contra uma desertificação galopante que teima em perseguir o mundo rural.
O número de cidadãos que exerceu o seu direito de voto seguiu a mesma tendência. Há 9 anos, o número de votantes ficou pelos 42.235, correspondentes a 28,58 por cento. No domingo, 51.163 cidadãos decidiram ir às urnas, o equivalente a 34,36 por cento dos eleitores.
Contas feitas, a questão da IVG levou mais 8.928 pessoas às mesas de votos. E analisando os resultados, conclui-se que este acréscimo pendeu para o lado SIM.
Em 1998 foram 10.899 os eleitores que votaram favoravelmente à legalização do aborto. Anteontem, o número quase duplicou, passando para 20.562, traduzidos num aumento percentual de 26,25 para 41 por cento
O Não, pelo contrário, perdeu 1031 adeptos, fruto da descida de 30.621 para 29.590 votos.
Em termos de percentagem, a resposta negativa perdeu, ainda, mais terreno. Em 1998 convenceu 73,75 por cento dos votantes do distrito de Bragança, enquanto anteontem só representou 59 por cento.
Vários factores poderão explicar esta tendência, mas há dois que têm de ser realçados, obrigatoriamente. Primeiro: em nove anos, a população nordestina ficou mais tolerante e mais sensível à questão da IVG, ao ponto dos adeptos do SIM terem decidido exercer o seu direito de voto.
Segundo: o clero não encetou uma cruzada sem precedentes pelo NÃO. Tanto assim foi que, tirando as polémicas comparações do aborto com a pena de morte de Saddam Hussein, protagonizadas pelo bispo da diocese de Bragança-Miranda, D. Montes Moreira, a campanha não atingiu a mediatização de outros tempos, em que D. António Rafael pastoreava o distrito.
Esta poderá ser uma das explicações possíveis para o avanço do SIM, a par das mudanças na forma de pensar, ocorridas entre 1998 e 2007.
Aliás, este deverá ser um dos temas debatidos na reunião da Comissão Episcopal, que teve ontem início, em Fátima. “O que falhou?”, poderá ser umas das perguntas dos bispos portugueses, num encontro que decorre até à próxima sexta-feira.