Ter, 28/03/2006 - 14:31
Esta situação é realçada pela pedopsiquiatra do Hospital Distrital de Bragança, Elisa Vieira, num seminário dedicado ao tema “Violência e Maus-Tratos”, organizado pela Associação Reaprender a Viver (ARV), que decorreu durante o dia de ontem.
Na óptica da responsável, muitas vezes, as situações de maus – tratos na infância estão intimamente ligadas com situações de pobreza que se encontra escondida dentro de quatro paredes.
“Trata-se de famílias muito degradadas ao nível social e económico e são pessoas que no fundo têm vergonha da sua própria pobreza e não pedem ajuda. Esta só surge quando as situações são detectadas através de uma ida ao hospital ou através de denúncias”, acrescenta a pedopsiquiatra, que também faz parte da Comissão de Protecção a Menores e Crianças em risco de Bragança.
A par de uma alimentação deficiente e desadequada e à falta de condições de higiene, também há crianças e jovens que são vítimas de agressões físicas.
De acordo com os números apresentados pelo comandante da PSP de Bragança, Amândio Correia, entre as vítimas de violência 15 por cento são crianças e jovens.
Mulheres são vítimas
No entanto, na maior parte dos casos, os menores acabam por ser vítimas de agressão dentro do próprio seio familiar. Ou seja, há crianças que são espancadas juntamente com as mães.
Segundo o comandante da PSP de Bragança, entre 2001 e 2005 as denúncias de crimes de violência doméstica aumentaram 50 por cento. Para o responsável, contudo, este acréscimo não significa que o número de vítimas tenha duplicado, mas que este problema está a ser cada vez mais descoberto por parte de quem sofre a agressão.
No entanto, Amílcar Correia acredita que os 147 casos denunciados até ao final do ano passado ficam aquém da realidade vivida na região.
Os agressores identificados no Nordeste Transmontano são, maioritariamente, homens (88 por cento), com idades compreendidas entre os 25 e os 44 anos de idade, e são os maridos ou companheiros das vítimas. Já o rosto de quem sofre as agressões é, na sua maioria, feminino (88 por cento) e menores (15 por cento).
A coragem e a esperança são os sentimentos que levam as vítimas a denunciarem o clima de “terror” em que estão inseridas, muitas vezes sem o apoio da própria família.
Para dar resposta a estas pessoas, em Bragança existem cinco casas de abrigo, que recolhem as vítimas durante o período de tempo que necessitem para mudar o rumo da sua vida.
A ARV também procura dar resposta a pessoas que necessitam de ajuda, prestando-lhe apoio jurídico, informando-as dos direitos que têm e fornecendo-lhe apoio psicológico.