Uma luta desigual

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Ter, 12/09/2006 - 16:47


Passadas que foram as poucas semanas de férias, dispendidas de acordo com as possibilidades de cada um, é tempo de enfrentar outra realidade, uma realidade continuada e que apenas foi posta de lado porque o tempo de descanso se sobrepôs numa manifesta positividade.

Expostas as colocações dos professores, surgiram, como era de esperar, os erros, os problemas, os enganos e os desenganos. É algo a que vamos estando habituados e contra o qual nada há a fazer! Mas o mais caricato desta situação é que nenhum ministro a conseguiu até hoje resolver. Se um ano as colocações saem uma semana mais cedo, já é uma vitória e logo se arremessa com ela a todos os ventos para que estes espalhem para bem longe tal sucesso.
Mas os professores que, apesar disso, não são colocados e enfrentam todos os anos a incerteza, o desemprego, o infortúnio, esses não fazem parte do sucesso.
Ao longo do ano passado, os professores viveram momentos de desespero atroz, perante afirmações e propostas de alterações do Estatuto da Carreira Docente, que eram autênticas anomalias, aberrações sem tradução possível e cujos objectivos não era explícitos nem estavam implícitos. O desespero levou os sindicatos a organizarem greves e manifestações, mas nem todos os sindicatos se uniram, nem todos os professores estiveram de acordo. Vitória para o governo. Separar para governar!
Perante tanta insensatez e tanta desorganização, continuaram as propostas de alteração do ECD para o próximo ano lectivo, com todas as ameaças a elas inerentes a penderem sobre a cabeça dos professores. Avaliações dos professores mais novos, provas para passar de escalão para os professores mais velhos, professores titulares para avaliar os colegas mais novos, etc, etc.. Uma parafernália de situações que fazem arrepiar o mais corajoso.
Agora, que estamos prestes a iniciar as aulas, aí vêm os sindicatos dizer que estão em luta ao lado dos professores. Mas será que os professores estão ao lado dos sindicatos?
A força que os sindicatos querem imprimir às suas reivindicações é só
aparente. Na verdade os professores, divididos como sempre estiveram, não estão dispostos a apoiar mais greves e a aceder a mais acções contra a
prepotência da senhora Ministra da Educação e dos seus apaniguados. E para quê?
O que se tem verificado é que os sindicatos não têm mostrado força
suficiente para lutar a favor dos professores, além de estarem de acordo com algumas propostas ridículas e dispostos a estudar outras completamente estapafúrdias. Não é pois, de estranhar que os professores não aceitem ir atrás das vontades dos sindicatos. Quando os próprios sindicatos não se unem nesta luta contra a senhora Ministra da Educação, nem estão de acordo uns com os outros numa manifestação única de vontades em prol da defesa da classe docente, como podem reagir diferentemente os professores? É ou não uma luta desigual? Completamente. Não admira também que muitos professores se estejam
a desindicalizar!
Agora face à abertura eminente das aulas e do ano lectivo, continuam em aberto as propostas da senhora ministra, mas nenhuma ainda foi aprovada, como não foi aprovado o novo ECD. Mas a verdade é que a Ministra da Educação não recua nas suas propostas, pois já sabe que os sindicatos desunidos como estão e os professores todos desencantados com tudo e todos, não são capazes de lhe fazer frente. Assim, as expectativas são as piores que se podem esperar.
Perante estes factos e estas vontades de mudança, já se aponta Janeiro do
próximo ano de 2007, como o ponto de partida para a aplicação das novas
orientações ministriais. Mais uma anomalia! Como se podem alterar as regras a meio do jogo? Impensável! Enfim.
De igual modo ainda não se sabe quais vão ser as regras do jogo para o
próximo ano lectivo! Assim, esperamos que pelo menos até Janeiro não surjam grandes alterações. Depois, ... bem, depois espero que a própria Ministra já lá não esteja! Seria a grande sorte dos professores e dela, certamente! É que no meio desta luta desigual e onde os professores têm vindo a perder sempre, não me admira que algum deles se arme em novo Buiça, mesmo correndo o risco de ser apanhado! Destinos!