Uma Grande Escola

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Ter, 07/11/2006 - 10:44


Nos últimos anos, a imprensa nacional tem publicado listas ordenadas relativas ao posicionamento das escolas secundárias do país. Que o Portugal global celebrizou sob a designação mais imediata e mediática de “ranking”.

O pretexto dessas listas tem sido – à laia de móbil – ajuizar que os resultados dos exames do 12º ano concentram em si a prova de culpa ou a declaração de inocência face às vicissitudes, tidas por crónicas, desse sistema chamado “ensino”.
Um dos aspectos contestáveis desse “ranking” é o efeito de filtro que ele provoca, desvalorizando as causas de um processo que parece culminar, de forma quase absoluta, nos exames do secundário. E, como fórmula desculpabilizadora, são apontados os factores “clássicos”, aqueles que parecem ser determinantes para os resultados apurados e que se colam persistentemente às condições socio-económicas e geográficas dos meios onde as escolas se inserem. Não é irrelevante – até porque a interpretação dos dados justifica a sua recolha – a chamada de atenção sobre o facto de as vinte primeiras posições da lista serem ocupadas por 12 escolas privadas dos centrais meios urbanos, no incontornável litoral. Acentua-se o que é previsível como forma de validar a convicção de que há uma relação de causa-efeito entre os resultados apresentados por uma escola e o ferrete geo-social com que ela é marcada.
E, por isso, é absolutamente extraordinário que um estabelecimento de ensino da cidade de Bragança – em Trás-os-Montes – tenha conseguido ficar, em 2006, nas vinte primeiras escolas do país, relativamente aos resultados dos exames do 12º ano.
Na verdade, o 18º lugar conseguido pela Escola Secundária Abade de Baçal não pode ser olhado de forma linear nem parcial. Os resultados dos exames do 12º ano não são o único (embora sejam o mais mediático) factor avaliativo da Escola. E eu – que trabalho há 17 anos na Abade de Baçal e conheço o trabalho que esta Escola tem realizado ao longo do tempo – sinto que o reconhecimento local e nacional de que ela é, agora, alvo não deveria estar condicionado, apenas, pelos resultados dos exames. Embora estes sejam, evidentemente, o produto de todo um processo estruturante e cuidadoso em que assentam as bases educativas pelas quais esta Escola se rege. Porque, como as listas ordenadas têm mostrado, a Abade de Baçal tem vindo a subir gradualmente relativamente às classificações dos exames. Aos quais apenas uma ínfima parte dos alunos se candidatam como externos, já que esta Escola tem como principio permitir que todos tenham as mesmas oportunidades nos momentos de avaliação. Como se comprova, também, no acompanhamento personalizado dos alunos, nas salas de estudo sistematizado e na preparação específica para as provas de exame, após o término das aulas, que acontece em várias disciplinas.
Porém, o trabalho que se faz na Abade de Baçal não se reflecte só nos resultados dos exames nacionais, mas, também, nos projectos curriculares e extracurriculares, dos quais destaco, por exemplo, a Euroscola (a Abade de Baçal é a escola portuguesa com maior número de presenças no Parlamento Europeu, em Estrasburgo) e o notável e multi-premiado jornal “Outra Presença”, que é um exemplo nacional de excelência, no conjunto dos jornais escolares do país.
E, não, não faz qualquer sentido dizer que a Abade de Baçal é uma escola selectiva, porque ela – que é acolhedora – gostaria de receber muitos mais alunos do que aqueles que tem, num concelho onde a desertificação vai ganhando espaço.
Como também não fazem sentido quaisquer rivalidades que o “ranking” possa fazer emergir em escolas secundárias do concelho ou do distrito. Porque a “vitória” de uma escola do interior pobre e esquecido é uma esperança para todas as outras escolas dessa mesma região, visto que mostra o triunfo da vontade sobre o estigma da interioridade e do “atraso” que lhe está associado.
Caro leitor: este texto não é o elogio da Escola onde trabalho; mas, antes, a manifestação do orgulho que sinto e que partilho consigo neste Jornal. É que na Escola Secundária Abade de Baçal o sucesso não é perceptível quando olhamos para o “ranking” nacional, porque o sentimos, todos os dias, no esforço com que cada elemento da comunidade educativa vai construindo esta Escola.