Um ano para ir ao Oftalmologista

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Ter, 23/01/2007 - 14:47


Quem precisar duma consulta de Oftalmologia na Unidade Hospitalar de Bragança (UHB) tem duas hipóteses: ou espera mais de um ano para ser atendido através do Serviço Nacional de Saúde (SNS), ou desembolsa 54 euros e consegue, em menos duma semana, uma consulta privada, mesmo sem ter que sair do interior do hospital.

Seja no sistema público ou privado, muito provavelmente será atendido pelo mesmo médico, neste caso o director clínico do Centro Hospitalar do Nordeste (CHNE), Sampaio da Veiga, que dá consultas particulares num consultório do hospital bragançano.
Para confirmar esta situação, o jornal NORDESTE tentou marcar uma consulta de Oftalmologia, sendo encaminhado, logo à partida, para as consultas particulares que o director clínico do CHNE efectua na UHB.
“E se quiséssemos optar por uma consulta do SNS?”, perguntámos. Neste caso fomos informados, pela funcionária de serviço, que apenas estão a ser marcadas as consultas prioritárias. Ou seja, as que se destinam a utentes diabéticos, com cataratas, crianças até aos 10 anos, problemas oculares relacionados com glaucoma (danos no nervo óptico que se não for tratado pode levar à perda gradual da vista) e estrabismo.
Mesmo assim, ao que foi possível apurar, um utente prioritário poderá ter que esperar mais de 7 meses para ser atendido.

Funcionária do hospital de Bragança encaminhou repórter do jornal NORDESTE para as consultas particulares

Pelo contrário, um utente com mais possibilidades financeiras pode optar pelas consultas particulares e nem precisa de contactar o médico directamente, já que a funcionária que atendeu o jornal NORDESTE, telefonicamente, até se encarregou de realçar a brevidade do sistema. “O Dr. Sampaio dá consultas todas as semanas, às quintas e sextas da parte da tarde”, informou a mesma recepcionista. “E quanto tempo demora a consulta?”, perguntámos. “Não demora, as consultas não estão atrasadas. Ainda há uma vaga para amanhã [5ª feira passada] e outra para sexta”, acrescentou a funcionária.
E, se o tempo de espera é bem distinto, o mesmo acontece com o custo de cada consulta. Se for marcada através do SNS, o utente paga, apenas, uma taxa moderadora que ronda os 3 euros, menos 51 euros do que na tabela particular.
Confrontado com esta situação, Sampaio da Veiga sublinha que está devidamente autorizado pelo Conselho de Administração do CHNE a dar consultas privadas no Hospital de Bragança. No entanto, o clínico realça que o atendimento privado não é uma alternativa ao SNS. Por isso, acrescenta que as pessoas são livres de fazerem a sua escolha: ou ficam em lista de espera ou optam por uma consulta particular.
Isto é, os utentes com baixos recursos financeiros vêem-se privados de um acompanhamento médico rápido, correndo o risco do tempo de espera agravar, ainda mais, os problemas de visão.
É que se um doente não se enquadrar em nenhum dos casos considerados urgentes, terá que esperar mais de um ano para conseguir uma consulta desta especialidade.