Turismo para dentro

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Ter, 01/08/2006 - 18:31


Um pouco por todos os concelhos do distrito sucedem-se as cegadas ou malhas à moda antiga, pela mão de associações, Juntas de Freguesia ou movimentos espontâneos de populares.

A ideia é mostrar aos mais jovens como se ceifava noutros tempos, contribuindo para manter vivos usos e costumes ameaçados pelo tempo.
O povo reúne-se e vivem-se manhãs e tardes de salutar convívio, até porque não faltam as cantigas de outrora e as merendas à sombra de árvores capazes de suster o sol impiedoso do Verão transmontano.
Quem passa por algumas destas iniciativas, contudo, fica com a impressão que momentos tão bem recriados mereciam uma abertura ao exterior capaz de projectar as aldeias que conseguem mobilizar a população em torno de usos e costumes em desuso.
Em Palácios, por exemplo, um casal de turistas holandeses deliciava-se com a merenda que se seguiu a uma malha tradicional. Não só pelas iguarias que foram postas em cima da toalha de linho, como pela oportunidade de assistir a uma manifestação única, em pleno coração do Parque Natural de Montesinho.
Tudo isto para dizer que este tipo de iniciativas pode ter uma dupla faceta. Em primeiro porque contribuem para vincar a identidade de um povo, em segundo porque podem gerar riqueza, pois há muita gente nos grandes centros urbanos disposta a pagar para assistir a uma matança do porco e a uma segada tradicional seguida de malha e merenda a preceito.
Para tal, é indispensável que a nova comissão Regional de Turismo do Nordeste Transmontano, presidida por Júlio Meirinhos, consiga fazer o que ninguém fez até hoje no edifício do Largo do Principal. Ou seja, criar pacotes turísticos que possibilitem um contacto directo com as gentes transmontanas, tal como acontece nos destinos turísticos em que a praia não é o único centro das atenções, casos do Minho, da Madeira ou dos Açores.
Até isso acontecer, corre-se o risco de estar a promover os usos e costumes unicamente “para dentro”, em vez de projectar no exterior tradições de inegável interesse.