Tratar da casa aos 94 anos

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Ter, 18/10/2005 - 15:19


Ter 94 anos não é notícia nos dias que correm. O que pode ser digno de vir num jornal é ter esta idade e assegurar todas as tarefas domésticas duma casa, aproveitando os tempos livres visitar amigas e amigas que a idade já levou para os lares de idosos.

Neste caso, o rosto da notícia é Carlota Costa, que tem no trabalho o segredo de tanta vitalidade. “Dediquei toda a minha vida ao trabalho e ainda hoje não consigo estar parada, porque parar é morrer”, acentua esta habitante de Bragança.
Os dias de Carlota Costa começam às 6:30 horas, altura em que prepara o seu pequeno-almoço e começa a arrumar a casa, enquanto os restantes membros da família não acordam. Depois das arrumações, esta jovem de outros tempos começa a preparar o almoço que, na maior parte das vezes, é servido a oito pessoas.
É que Carlota Costa vive com o filho e, na lide da casa, é uma ajuda preciosa para a nora, que foi vítima de uma trombose e tem dificuldade em se movimentar. Por isso, mete mãos à obra e ainda cozinha para as netas que andam a estudar em Bragança.

Visitas ao lar e ao hospital

Depois de acabar as tarefas domésticas, a nonagenária aproveita os tempos livre para ir visitar os doentes ao hospital e os idosos do Lar de S. Tiago e da Santa Casa da Misericórdia.
“Gosto de ir visitar os doentes, para lhe dar ânimo e lhe desejar as melhoras. Aos mais idosos costumo desejar saúde. Mas faz-me confusão como é que pessoas mais novas do que eu passam um dia inteiro sentadas no lar”, realça Carlota Costa.
Nascida no Minho mas residente em Bragança desde tenra idade, esta anciã conta que passou a vida inteira a trabalhar e não é agora que vai trocar as tarefas do dia-a-dia por uma vida sedentária.
“Quando era nova cheguei a trabalhar de dia e de noite. Agora, continuo a fazer as tarefas domésticas e aquilo que posso, porque trabalhar dá saúde”, garante a senhora.

A idade não a impede
de fazer renda

E, como as forças não parecem faltar, a vista ainda permite renda, que sempre foi uma das tarefas preferidas de Carlota Costa. Chegou a fazer várias colchas, mas os olhos já acusam algum cansaço, pelo que vai fazendo, apenas, uns naperons para se entreter.
A par do trabalho, a fé também foi sempre “uma boa conselheira” esta bragançana de adopção que, além de fazer visitas assíduas à igreja, nunca se esquece de rezar o terço. “A fé é o que me vale. Todos os anos visto quatro anjinhos na Nossa Senhora das Graças e trago sempre o terço comigo”, recorda a nonagenária.
O filho, Alípio Gomes, herdou a energia e vitalidade da mãe, por quem sente um orgulho indisfarçável. Em casa nem lhe passa pela cabeça pedir à progenitora para descansar, porque a resposta é sempre a mesma. “Já lhe disse que contratava uma mulher para vir fazer os trabalhos cá a casa, mas ela não quer e até fica ofendida”, assevera Alípio Gomes.
O copinho de vinho à hora da refeição também é uma prática sagrada para Carlota Costa, que, mesmo com o passar dos anos, não é adepta dos medicamentos.
“Agora tenho tomado um comprimido para a tensão arterial, mas não costumo tomar nada. Graças a Deus tenho tido saúde e só é a idade é que me vai tirando as forças”, explica a senhora.
A televisão também ocupa parte do tempo de Carlota Costa, que nunca perde uma edição do telejornal, para estar informada sobre o que vai acontecendo no Mundo.
Alípio Gomes não quer antecipar os acontecimentos, mas confessa que espera organizar a festa do centenário da sua mãe, que continua a encarar a vida com muito entusiasmo e energia.