Terroso alimenta tradições

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Ter, 23/05/2006 - 15:23


Integrada no Parque Natural de Montesinho (PNM), a aldeia de Terroso, freguesia de Espinhosela, concelho de Bragança, ainda preserva as tradições mais antigas do Mundo Rural.

Para os cerca de 28 moradores, maioritariamente idosos, moer o cereal no moinho da aldeia e cozer o pão nos tradicionais fornos a lenha é uma tarefa comum, tal como a agricultura e a criação de animais.
José Gomes, de 80 anos, conta que o moinho sempre fez parte da vida dos habitantes de Terroso. “Se ele falasse tinha muitas histórias para contar”, afirma em tom de risada.
Este octogenário recorda os tempos em que passava dias no moinho e as vezes que carregava os sacos da farinha (com mais de 50 quilos) às costas do rio até à aldeia.
É com ar de sacrifício, mas também com alguma tristeza que os idosos vêem morrer as tradições, uma vez que os mais novos partiram para as cidades em busca de uma vida melhor.
Apesar do caminho em terreno acidentado, a maioria dos idosos de Terroso ainda tem forças para ir ao moinho triturar o cereal para alimentar os animais. Antigamente, a farinha também era utilizada para cozer o pão, mas, actualmente, é substituída por farinha comprada.

Paisagem e tradições de mãos dadas

“As coisas já não são bem como antigamente, já não temos os utensílios necessários para limpar a farinha. Já nem os há à venda”, afirma Maria de Lurdes Costa, uma habitante que sempre esteve ligada às tradições.
Em pleno PNM, a beleza das paisagens combina com as tarefas realizada naquela aldeia, que parece preservar os traços rústicos que a caracterizam. Por isso, no Verão, torna-se um local de atracção para muitos turistas que visitam o rio e o Parque de Merendas da aldeia.
“Muitas pessoas que vêm cá ficam encantadas com o moinho. Muitos até nos pedem para lhe explicarmos como funcionam. Mas, para nós isto faz parte do dia-a-dia”, salienta Maria de Lurdes.
Numa terra onde as mulheres também são “moleiras”, todos conhecem de cor o funcionamento do moinho, recentemente requalificado pela Junta de Freguesia de Espinhosela, com o Apoio do Parque Natural de Montesinho.
Maria de Lurdes Costa explica que moer o cereal é uma tarefa fácil, mas requer muita paciência, visto que é preciso vigiar o moinho e esperar horas a fio enquanto o grão é transformado em farinha.
Os cuidados necessários para o funcionamento do moinho também se tornam cada vez mais complicados para os habitantes de Terroso.
“Não é só moer. É preciso picar a pedra para deitar melhor a farinha. Mas com o peso da idade já se torna cada vez mais complicado levantá-la”, lamenta José Gomes.
Numa terra de moleiros, cozer o pão nos fornos a lenha é outra das tradições enraizada na aldeia de Terroso.

O segredo do pão caseiro
Florinda Bernardo nunca deixou de cozer o pão no forno que já pertencia aos seus antepassados. O sabor das bolas e o facto de ficar mais económico são os motivos que levam esta habitante de Terroso a cozer o pão.
Segundo alguns habitantes da aldeia, o PNM chegou a propor o fabrico de pão caseiro para venda, como forma de não deixar morrer a tradição. No entanto, a falta de jovens acabou por deitar por terra esta iniciativa.
A beleza das paisagens do PNM cativou um grupo de produtores italianos, que contactaram a associação Montesinho Vivo para conhecerem as tradições do Nordeste Transmontano.
O presidente da Associação, Telmo Cadavez, mostrou as potencialidades do PNM e de algumas aldeias integradas naquele património natural, afirmando a importância da internacionalização do parque, através da criação de pacotes turísticos atractivos.
No entanto, aponta as dificuldades financeiras como entrave à preservação das tradições nas aldeias típicas.