Ter, 21/11/2006 - 10:35
De facto, o TM, não defraudou as expectativas, ultrapassando as melhores previsões, pois os seis dias de exibição enriqueceram as pessoas, as conversas e motivaram, no geral, a ida ao TMB.
Assistiu-se a um espectáculo da frontalidade, que se gosta ou detesta, daí que se vissem algumas vozes a reclamar a inverosimilidade da peça. Mas, individualismos à parte, o espectáculo focou a cultura do Nordeste, sob uma caracterização de personagens realista, salientando-se os traços físicos e psicológicos.
O ciclo da vida transmontana foi retratado até à exaustão. Mas, o grande artifício decorreu na forma como se passaram as diferentes acções, num processo geométrico, divertido e surpreendente. Temáticas, que nos dizem tanto, como a lavoura, conservadorismo, contrabando, comunidade emigrante, religião, caretos, pauliteiros, gastronomia, o segredo, as quezílias, solidão, o banco de três pernas e o próprio tabu da sexualidade, foram temáticas abordadas pelos actores, que se basearam na comunicação gestual para representarem.
As raras vezes que usaram a palavra foi para dar ênfase à pronúncia grave e espontânea dos nordestinos em espaços cómicos. Mas tudo isso não seria possível sem um narrador, neste caso a música, que quebrou com todos os cânones musicais através de um contraste entre o silêncio e o nervosismo dos acordes. Efectivamente, os espectadores, a dada altura, já transformavam o silêncio nas suas notas musicais. Fernando Mota transcendeu o auditório com a versatilidade dos seus sons, da sua variedade rítmica, assemelhando-se a um verdadeiro disco-jockey. Só não deu mais nas vistas porque o desenho de luz se centrou, parodoxalmente, entre as acções principais e secundárias.
Em suma, uma visão sobre o universo nordestino, com actores mordidos pelo espírito do lugar e uma música que nos embalou para a criação da nossa própria peça teatral.