Talhada para o futebol

PUB.

Ter, 06/02/2007 - 12:03


Aida Jesus Afonso Doreta conta, sem pudores, a sua vida e as suas aspirações como treinadora. A candidata a treinadora desnudou a alma para explicar por que é que aceitou um desafio tão masculino

No início eram duas, mas chegada a hora da verdade, Aida foi a única a aventurar-se no meio de 31 rapazes para tirar o Nível I do curso de treinadores, promovido pela Associação de Futebol de Bragança.
Mas nem o historial dos colegas, nem o facto de todos serem homens assusta Aida Doreta. “Só resisti eu, mas sou muito acarinhada por todos eles e respeitamo-nos mutuamente”, afirmou a jovem.
Adepta de um 4X4X3 e do Benfica, esta licenciada em Ciências do Desporto sempre foi uma apaixonada pelo mundo desportivo. Por isso, o gosto pela bola surgiu naturalmente. “Vejo futebol desde miúda e sou muito crítica nas apreciações”, conta.
Desta forma, decidiu tirar o curso de treinador (a) por vocação e também “para ter formação e conhecimento para poder vir a treinar no futebol, mas a curiosidade também ajudou”, confessa a destemida candidata. “Montes de Vinhais” será o local de estágio da formanda, pois é o clube da sua terra. As camadas jovens desta colectividade irão conhecer a determinação desta jovem de 25 anos e, a avaliar pela motivação, auguram-se bons resultados.
Sente que tem muito para dar ao futebol e, numa primeira instância, quer contribuir na área da formação para, posteriormente, “mudar mentalidades, ou, pelo menos, incutir nas pessoas que o futebol não é só para homens e que, como em todas as áreas, as mulheres podem vingar”, revela.
Benfiquista e licenciada em Ciências do Desporto sempre foi uma apaixonada pelo mundo desportivo
Um dos formadores do curso, João Quina, considera que Aida é muito participativa na área técnico-táctica e muito auto-suficiente nas suas acções. Mas, daí até entrar num balneário masculino vai uma enorme dificuldade e não está ver a aprendiz rodeada de “masculinismos”.
Contudo, a jovem vinhaense é peremptória: “Porque não! Talvez seja essa a necessidade das equipas de futebol, isto é, terem um líder feminino. A mudança só faz bem, pois o próprio mundo está em constante mudança”.
No que respeita ao horizonte desta destemida mulher, o principal objectivo, de momento, é aprender o máximo ao nível de conhecimento e experiência neste curso. Mas as ambições não se estancam por aqui, já que quer apostar na formação de atletas e caminhar até ao último nível do curso de treinadores.
Na óptica de Aida Doreta, “os portugueses são pouco abertos ao facto de uma mulher ser treinadora, mas, por vezes, a novidade pode agradar e afirmar-se”. Na verdade, o futebol é comandado por homens, podendo ser considerado uma modalidade machista. Mas esta jovem, consciente da realidade, vê cada vez mais adesão do sector feminino ao mundo futebolístico. “Nos últimos anos, muitas mulheres começaram a controlar o destino dos clubes e a fazer parte da equipa técnica”, acentua.
Para terminar, perguntamos a Aida qual era a referência no campo técnico. A resposta parecia adivinhar um José Mourinho, mas, como sempre, Aida surpreendeu. “Mourinho não é a referência, apesar de gostar da forma como ele olha o futebol. O meu grande ídolo é Paulo Bento, pois é muito comunicativo, sereno e tem postura”.
Em suma, esta miss ou mister quer colocar o futebol e o sexo feminino lá em cima, para servir de exemplo para outras mulheres que sonham com o mesmo. Aida tem consciência que não é fácil caminhar por trilhos desenhados pelo sexo masculino, mas, com trabalho e empenho até o futebol pode precisar das características femininas, tal e qual uma Suécia ou Estados Unidos da América.