A sombra dos líderes

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Ter, 21/03/2006 - 15:34


É fecunda a história em casos que relatam a vida de quem teve a ousadia de viver na sombra de alguém.

A menoridade dos que o fazem, é a origem conscienciosa, para que, com a maior das à vontades, vivam escondidos, mas sempre usufruindo dos favores dos que os escondem, chegando, por vezes, a possuir a tentação de aparecer, dando a cara nos momentos considerados mais oportunos para tal.
No entanto, também é verdade o seu contrário. Quero dizer com isto, que
existem pessoas que não vivendo na sombra de outros, antes pelo contrário, são perseguidos pela sombra de outros que os não deixam actuar como desejariam. Sentem o peso da perseguição, ou se quisermos, o peso da comparação ou mesmo o peso da fama que os outros tiveram.
É complicado quando se ocupa um lugar que anteriormente esteve entregue a alguém que deixou marcas vincadas da sua actuação. É evidente que não me refiro às personalidades que todos os dias saem e entram no campo político nacional. Vinco somente os que marcaram no exercício da sua legislatura e de tal modo que, os que vieram logo após, se sentem intimidados pela sua grandeza.
É o que está a acontecer aos nossos líderes políticos. Esta semana e este fim-de-semana foi tempo de congressos e de conselhos nacionais de alguns partidos. Começou pelo PCP que, apesar de alguns azares,
saiu tudo bem, como sempre! Aqui sai sempre tudo bem! No entanto, podemos questionar, até que ponto o seu líder se sente oprimido pelo peso do seu antecessor! Ou mesmo, até onde este sentiu o peso de Álvaro Cunhal, enquanto esteve à frente do partido! Claro que para Jerónimo é um pouco mais fácil pois Cunhal já cá não está para julgar, mas a sombra dele pairará sempre, vigilante, como convém, pelo menos comparativamente. O PSD teve também o seu Congresso. Um pouco despropositado, a meu ver, mas lá conseguiu reunir as hostes para se pronunciarem no que os outros já tinham feito: directas. A alteração de estatutos parece-me demasiado obrigacionista para um congresso. No entanto, Marques Mendes, parece ter sentido o peso da responsabilidade da sua eleição em Congresso e quis virar isso a seu favor, propondo ele próprio que o líder passasse a ser eleito pelas bases. E quem é que tem medo? Mas já Menezes o tinha defendido há meses atrás. Nada de novo,
a não ser o peso da concorrência à liderança de Menezes. Ou seja, a sombra do médico de Gaia, paira a cada instante sobre a cabeça de Marques Mendes e leva-o a tomar decisões destas para tentar virar a seu favor o próprio eleitorado. E legitimidade por legitimidade, tal como Cavaco foi eleito por todos e para todos, também Marques Mendes quer afastar a sombra de Cavaco indo a votos.
É uma forma legítima de encarar os actos eleitorais. Não sei se há mais ou
menos democracia neste ou naquele processo eleitoral. Para mim são os dois democráticos. As eleições directas já eram usadas na antiga Grécia pelo estratego Péricles, no século V a.C. Já passaram quase três mil anos e ainda andamos a questionar qual o melhor sistema eleitoral, o que demonstra a nossa inexperiência política. É pena!
Mas também o CDS/PP teve o seu Conselho Nacional este fim-de-semana. Isto seria o mais natural possível se não acontecesse por arrastamento. De facto não se entende muito bem porque razão o seu líder convocou um Conselho Nacional, mas parece que o justificou como sendo necessário à sua afirmação como líder, tentando afastar a sombra de quem o julga ou julgou, criticando actuações suas. Não faz sentido nenhum esta justificação, até porque ele foi eleito em Congresso onde defendeu igualmente as eleições directas, tendo sido eleito seguidamente através de directas! Eleito, portanto, duas vezes seguidas. Mais do que isto para se sentir suficientemente legitimado, não há certamente. Mas todos sabemos que o objectivo é clarificar situações e calar definitivamente quem lhe faz frente, levando-o com isso, a reafirmar o seu poder decisório de líder. Não haverá aqui uma sombra a meter medo? Dizia a este respeito, Marcelo Rebelo de Sousa, que seria preciso enterrar um esqueleto que pairava sobre Ribeiro e Castro desde os primórdios da fundação do CDS e que ele não sabia como fazê-lo. Talvez tenha razão. No entanto, além dos esqueletos de Marcelo, parece-me que existem sombras à volta de
Ribeiro e Castro. Sejam elas a de Adelino Amaro da Costa, a de Freitas do
Amaral, a de Adriano Moreira, a de Maria José Nogueira Pinto ou mais
recentemente, a de Lobo Xavier, que existem, lá isso é verdade.
Mas seja como for, estou plenamente convicto que, se não for nenhuma destas, pelo menos a sombra de Paulo Portas paira no ar e o seu peso é demasiado forte, para permitir levar o barco a bom porto.