Sinos que tocam sempre duas vezes

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Ter, 25/10/2005 - 15:12


“Toques de Sinos na Terra de Miranda” é o mais recente trabalho editado pelo Centro de Musica Tradicional Sons da Terra, sedeado na vila de Sendim, no concelho de Miranda do Douro.

Esta é a primeira edição deste género musical em Portugal, apesar de aparecerem alguns registos esporádicos de toques de sinos.
Este novo lançamento do Centro Sons da Terra é um trabalho de estudo, análise e recolha intensiva.
Segundo o director do Centro e autor da obra, Mário Correia, este novo disco é o culminar da recolha dos sons nas aldeias, uma tradição que corre o risco de desaparecer. Nalgumas aldeias, os tradicionais tocadores de sinos estão a ser substituídos por mecanismos eléctricos que fazem accionar o toque dos sinos, que de certa forma os mantém a mesma sonoridade.
O novo disco, em formato de CD, é acompanhado por um livro, que explica o significado dos toques dos sinos e a história deste instrumento de som ancestral, uma homenagem aos velhos tocadores de sinos das aldeias do Planalto Mirandês.
“No que diz respeito à sonoridade, os sinos têm uma afinação e obedecem a escalas, já que é possível obter diferentes toques em várias zonas dos sinos”, salienta Mário Correia.

Toques acompanham rituais

Por outro lado, este registo fonográfico é, ao mesmo tempo, o registo de “uma paisagem sonora das Terras de Miranda”. Parafraseando Michael S. Rose “uma igreja não deve ser, apenas, vista mas também ouvida”, já que muitas das pessoas que passam por estes templos, na maior parte das vezes, contemplam, apenas, o seu estilo arquitectónico ou o seu espólio, mas uma igreja é muito mais do que isso.
Os registos sonoros foram efectuados na maioria das aldeias do Planalto Mirandês, tendo o registo final o som de uma dezena de localidades.
Os sinos e as campainhas acompanham o homem desde tempos que há memória, assumindo várias e distintas funções, mas sempre presentes nos momentos mais importantes da vida de cada um.
Os sinos, para além de se destinarem a produzir determinados sons, com determinados usos e funções, são um instrumento indissociável dos ciclos vitais dos homens, assumindo as funções de rituais e usos mágicos.
Entretanto, há uma paisagem sonora da qual já desaparecerem muitos dos sons determinados pelas actividades agrícolas, fazendo-se ouvir, cada vez mais, os ruídos de algum desenvolvimento.