Sincelo

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Ter, 11/10/2005 - 15:16


Quem tal pintou desta vez,
Era artista genial.
À larga o branco fez
E não ficou nada mal.

Tudo branco como a neve,
Mas com um brilho mais belo.
Da paleta que o serve
Retirou a cor do sincelo.

Tela feita a correr…
A tinta caiu no chão!
Mas é lindo de se ver,
Compete com um nevão!

Há uma luz irreal,
Descendo, gelada, do céu.
Já caiu sobre o giestal
E por tudo se estendeu.

Ofuscou o brilho do sol
Que de frio se assustou
Com a tinta fofa e mole
Que quis secar mas falhou.

Dos telhados pingos grossos,
Grandes lágrimas geladas!
No chão, em todos os poços,
Águas bem cristalizadas.

Belos portões rendilhados,
E as varandas também,
São vidrilhos trabalhados
Que pendem e ficam bem.

As árvores todas floriram
Quais rosas de Santa Rainha!
Desta vez todas abriram
Numa bela cor branquinha.

Com seus brincos enfeitadas,
De diamante e de cristal,
Já estão preparadas
Para entrar no festival.

E vestidas a rigor…
(A ordem é branco usar!)
Parecem noivas de amor,
Prontas para se casar.

Os pássaros desapareceram
Fugiram p’rós cabanais!
Com o frio, estremeceram.
São frágeis e sofrem mais.

As cegonhas que chegaram
Hoje, a 10 de Janeiro,
De certeza, não pensaram
Neste Inverno geadeiro.

Mas o estranho pintor
Com senceno tapa a vista
E faz que a vida em redor,
A tal frio mal resista.

Meu Nordeste assim vestido,
Com sincelo enfeitado,
Por todos nós és querido
Mesmo que sejas gelado.

Barracão - Vinhais
Maria do Carmo