SALSAS recorda Abílio Beça

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Qua, 23/08/2006 - 10:10


No próximo dia 11 de Dezembro faz 100 anos que o comboio chegou a Bragança. Aproveitando a efeméride, a Junta de Freguesia de Salsas (JFS) decidiu homenagear Abílio Beça, o deputado e governador civil da época que lutou pelo prolongamento da linha do Tua entre Mirandela e Bragança.

Após recuperar o edifício da antiga estação, com o apoio da Câmara Municipal de Bragança (CMB) e CoraNE, a JFS colocou uma escultura em baixo relevo no depósito de água da gare, no intuito de perpetuar a vontade férrea de Abílio Beça. Do elemento artístico, da autoria de Luís Canotilho, faz parte o busto do homenageado e uma réplica duma locomotiva a carvão que circulava na linha do Tua.
Ironia do destino, foi uma dessas máquinas a carvão que, a 27 de Abril de 1910, trucidou Abílio Beça, na sequência da paragem da composição na estação de Salsas.
Atendendo ao simbolismo do local onde foi colocada a escultura, o presidente da JFS, Filipe Caldas, justifica a homenagem com a necessidade de “falar do homem que, há precisamente 100 anos, revolucionou todo o tipo de transportes do concelho”.
“Quis a fatalidade”, acrescentou o autarca, “que o comboio pelo qual ele [Abílio Beça] tanto lutou para que chegasse a Bragança, lhe ceifasse a vida”, recordou Filipe Caldas.

Estação acolhe Casa do Mascarado

Desactivada desde 1992, o troço da antiga linha que ligava Bragança a Mirandela é, hoje, um percurso votado ao abandono, onde estações e apeadeiros continuam à espera de um novo destino. Algumas das excepções são as gares de Bragança, transformada em estação rodoviária, e de Salsas, que alberga a Casa do Mascarado e um pequeno museu rural, este instalado no antigo depósito de água.
Na zona envolvente ao cais e à casa do guarda da estação está a ser construído um Lar de Terceira Idade, equipamento que completa as intervenções realizadas para requalificar o património ferroviário.
O prolongamento da linha de Mirandela para Bragança foi decidido a 2 de Julho de 1903, tendo a empreitada arrancado em 1905. O comboio apitou em Bragança, pela primeira vez, a 11 de Dezembro de 1906, deixando na falência João Lopes da Cruz, “o arrojado empreiteiro que sacrificou toda a sua grande fortuna para levar a cabo tão grande melhoramento”, referiu Filipe Caldas durante a homenagem a Abílio Beça, realizada na passada terça-feira.
O presidente da CMB, Jorge Nunes, esteve presente na cerimónia, onde referiu que, 100 anos após a chegada do caminho-de-ferro a Bragança, o desencravamento da região continua por cumprir, fruto dos atrasos na concretização do Plano Rodoviário Nacional. “Continuamos a reivindicar a construção de estradas capazes e quase me apetece dizer que, há século e meio, tínhamos bragançanos com mais firmeza em termos de discurso político do que temos na actualidade”, lamentou o edil.
Abílio Augusto de Madureira Beça nasceu em Vinhais a 20 de Agosto de 1856. Doutor em Direito pela Universidade de Coimbra, foi deputado e governador civil de Bragança até Julho de 1904. Meses antes, cooperou para que se mandasse construir, juntamente com o governo espanhol, a ponte internacional de Quintanilha.