Ter, 05/12/2006 - 15:49
Sempre pautou a sua vida pela rectidão não dando importância ao xadrez político reinante no nosso país. As suas convicções de democrata cristão estavam em primeiro lugar. Não era o poder que o atraía, mas sim o objectivo de conseguir fazer alguma coisa pela sua pátria, transformando-a num país democrático e moderno.
Pode dizer-se que a luta pela democracia lhe norteou a vida. Fundou o Partido Popular Democrata (PPD) e em 1980 tornou-se Primeiro-Ministro.
Membro de uma família abastada do Porto, não duvidou em optar pelo amor em detrimento dos convencionalismos sociais da época (deixou um casamento de décadas). O seu romance com Snu Abecassis foi um escândalo nacional e chegou a pensar que mesmo tendo ganho as eleições, poderia não ser nomeado Primeiro-Ministro. Obviamente esse receio não se cumpriu e desempenhou a função para que tinha sido eleito até à hora da sua morte, pelo curto período de onze meses.
Em 4 de Dezembro, em plena campanha para as presidenciais, Sá Carneiro tinha programado uma deslocação ao Porto para participar num comício destinado a apoiar o seu candidato, o general António Soares Carneiro, que se batia contra o general Ramalho Eanes. Em entrevista anunciou que se o General Ramalho Eanes ganhasse as eleições, se demitiria, pois o que lhe importava não era ser mais uma peça no tabuleiro da política, mas caminhar no sentido de poder transformar o país.
O pequeno avião Cessna onde seguia juntamente com a sua companheira, o ministro da Defesa Adelino Amaro da Costa e assessores (morreram sete pessoas, piloto incluído), despenhou-se em Camarate cerca de um minuto após a descolagem. Vinte e seis anos depois deste triste acontecimento, nada está esclarecido, embora o senhor José Esteves em entrevista recente tenha confirmado ser o criador da bomba que terá feito explodir o aparelho.
O Processo de Camarate faz parte da actualidade nacional desde então e muito se tem falado, escrito e especulado sobre o mesmo. Várias comissões de inquérito já se realizaram e apontaram para a tese de atentado. Neste momento o processo prescreveu e o Parlamento estuda a possibilidade de se legislar no sentido de se poder julgar o caso. Vamos ver o que vem daí.
Quanto a mim, logo a seguir ao acontecimento estava mais ou menos convencido de que teria sido um acidente. Hoje, depois de muitas leituras, a minha opinião vai de encontro à tese do atentado.
Em 1983 o Ministério da Justiça, sendo ministro o Dr. Mário Raposo, publicou: “CAMARATE – Divulgação integral dos pareceres e de peças elucidativas do processo”, com uma edição de 1500 exemplares. Fui lampeiro a adquirir um exemplar que ainda, felizmente conservo. De um momento para outro, sem se saber porquê ou porquê não, procedeu-se à recolha dos volumes distribuídos, por ordem do mesmo ministério que os tinha publicado. Do livro constam todos os relatórios periciais produzidos e algumas outras peças (fotografias, por exemplo) do mesmo processo considerados relevantes para conhecimento público. É caso para pensar que os factos não terão sido conduzidos da melhor forma em todo este processo e ao longo de todos estes anos.
Já anteriormente escrevi sobre Sá Carneiro, homem que admiro e que considero muito à frente do seu tempo e mais uma vez presto uma singela homenagem à sua memória.
Em Bragança, a exemplo do que se passa um pouco por todo o país (fruto da sua obra e carisma), existe uma avenida com o seu nome que começa com um conjunto escultórico da autoria de António Nobre, em minha opinião muito bem conseguido. Para além do busto apresenta também um cubo, símbolo, talvez, de um ciclo encerrado mas não concluído.
Tanto Sá Carneiro como Adelino Amaro da Costa (teorias afirmam que terá sido dirigido a ele o atentado por causa da proibição da venda de armas…) e demais pessoas que perderam a vida nesse já longínquo dia, merecem o nosso respeito e a única maneira de se respeitar a sua memória é resolver definitivamente o caso.
Marcolino Cepeda