Ricardo Magalhães defende Regionalização

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Ter, 18/10/2005 - 15:03


O vice-presidente da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento da Região Norte (CCDRN), Ricardo Magalhães considera que, enquanto “Trás-os-Montes e Alto Douro (TMAD) não tiver peso político específico, será muito difícil definir uma estratégia para a região”.

Na óptica do responsável, “é necessário criar as regiões administrativas, porque é à escala regional que se definem políticas, pois ninguém se desenvolve por correspondência”.
Ricardo Magalhães falava no Fórum “Desenvolvimento Regional perante novos Desafios – Ameaças e Oportunidades”, uma iniciativa promovida pela eurodeputada socialista, Jamila Madeira (ver caixa).
O vice-presidente da CCDRN recorda que, em Trás-os-Montes e Alto Douro “há zonas da raia que são o interior do interior”, acrescentando que, “se não houver um apoio supletivo, será difícil inverter essa situação de abandono”.
Ricardo Magalhães garante que há vontade para avançar para outros modelos de ordenamento do território, mas avisa que o não adianta injectar milhões de euros em TMAD se não houver uma estratégia de desenvolvimento regional.
“Onde estão os 52 milhões de contos aplicados no Douro durante o II Quadro Comunitário de Apoio e os 80 e tal milhões de contos previstos no programa Agris?”, questiona o ex-secretário de Estado.
Para o responsável, estes investimentos “são areia a passar entre os dedos, porque não houve estratégia na aplicação da verbas”.

Autarquias competem

Contrariando a tendência de criticar o Poder Central para justificar o atraso da região, Ricardo Magalhães também aponta o dedo aos agentes locais. “Cruzo-me frequentemente com transmontanos que pensam que a culpa da região não desenvolver está sempre longe e não é de ninguém de cá de dentro”, recorda o vice-presidente da CCDRN.
A competição entre municípios é outro dos aspectos visados pelo ex-membro do governo. “Quando olho para os equipamentos de Trás-os-Montes e Alto Douro, alguns ocupados durante três meses e vazios nos restantes nove meses do ano, parece-me que estamos num país rico”, lamenta o responsável, enquanto deixa um conselho às autarquias. “As Câmaras Municipais, que muitas vezes são as principais entidades empregadoras do concelho, têm de definir mercados e deixarem de andar a competir e a darem tiros umas às outras, porque saem todas feridas”, sustenta Ricardo Magalhães.
Aos olhos do ex-secretário de Estado, é preferível concentrar os investimentos de forma estratégica, do que disseminar os equipamentos de forma a agradar a todos, numa lógica que tem vindo a ser seguida até aos dias de hoje. “Enquanto a política for a de repartir o bem pelas aldeias, senão Aqui d´el Rei que estão a beneficiar uns em detrimento de outros, não vamos lá”, avisa.

Estádios para ninguém

Na hora do debate, o presidente da Câmara Municipal de Vila Flor, Artur Pimentel, percebeu as indirectas e criticou a forma como a região tem aproveitado os fundos comunitários. “Continuam-se a fazer estádios de futebol com bancadas e relva do melhor em concelhos com cinco ou seis mil habitantes”, lamenta o edil.
Apesar da sua condição de autarca, Artur Pimentel usou um exemplo recente para condenar a falta de visão estratégica dos municípios e a “política da capelinha”. “Quando o Governo anterior pretendia criar Tecnopólos em Trás-os-Montes, já se falava em cinco Tecnopólos para a região e ainda bem que esta proposta não avançou”, reconhece o presidente da Câmara.
Invariavelmente, a maioria dos equipamentos em disputa nascem nos meios urbanos, deixando as aldeias cada vez mais abandonadas. “Damo-nos ao luxo de ter grande parte do Mundo Rural abandonado”, ironiza Ricardo Magalhães.