Relíquias do Mundo Rural

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Qua, 27/04/2005 - 16:52


Os museus rurais do Nordeste Transmontano acolhem objectos que representam séculos de história, das gentes que habitam nas aldeias do Mundo Rural.

São verdadeiras relíquias que, outrora, fizeram parte da vida da população destas terras transmontanas e, actualmente, decoram os museus de Babe, Palácios e Caravela, no concelho de Bragança.
No Museu Rural da aldeia de Babe encontram-se diversos artefactos que antigamente eram usados no quotidiano do povo. Engenhos agrícolas, candeias, lampiões, candeeiros a petróleo, dobadouras, lançadeiros são algumas das peças emblemáticas que encontramos no museu desta aldeia do Nordeste Transmontano.
A iniciativa de recuperar as peças, muitas delas deitadas ao lixo pela população, partiu do antigo pároco da aldeia, o padre Belarmino Afonso, que decidiu recuperar a história das gentes de Babe.
Para além dos objectos do quotidiano, também estão expostos, neste espaço, utensílios que, outrora, serviram os ferreiros da aldeia, uma profissão que, actualmente, tem os dias contados.

Museu de Palácios
vai ser requalificado

Seguindo a Estrada da Lombada, encontramos o Museu Rural de Palácios. Este espaço carregado de História foi criado no antigo lagar comunitário da aldeia, devidamente recuperado para o efeito. No local encontramos outros engenhos que foram inventados pelo Homem, para facilitar, não só os trabalhos do campo, como também as tarefas domésticas.
“Naquele tempo as pessoas tinham poucas possibilidades e uniam-se para fazerem o vinho, para moerem os cereais... A população era muito unida e ajudavam-se muito uns aos outros”, conta Maximino Alves, o tesoureiro da Junta de Freguesia de S. Julião.
Hoje, as tradições foram morrendo, os utensílios foram aperfeiçoados e muitas actividades foram caindo em desuso, pelo que a população de Palácios, com a ajuda do Parque Natural de Montesinho (PNM) e dos Serviços Concelhios da Extensão Educativa, decidiram recolher as peças antigas, que as pessoas ainda tinham em casa, para mostrar aos forasteiros as relíquias que, em tempos, faziam parte da vida da população desta aldeia da Lombada.
O Museu Rural de Palácios, contudo, já mostra sinais de degradação. A água vai-se infiltrando e os objectos correm o risco de se deteriorarem. Para colmatar esta situação a Junta de Freguesia de S. Julião pediu ajuda ao PNM para que as obras de recuperação possam ser executadas.
“ As obras vão começar em breve. O orçamento já foi pedido e, daqui a alguns dias, os trabalhos vão começar. Depois da recuperação o museu vai ser aberto, para que todos os visitantes conheçam a história de Palácios”, afirmou Maximino Alves.

Lagar de Caravela
virou museu

Já em Caravela, encontramos o antigo lagar comunitário, que depois de recuperado, há cerca de 10 anos, acolhe peças que representam a história dos camponeses, mas também dos representantes da paróquia de Caravela.
“Os objectos que aqui se encontram foram recolhidos na aldeia, outros foram encontrados no lixo, como é o caso desta talha, um recipiente onde antigamente se guardava o azeite”, explica a responsável pelo Museu, Irene Fernandes.
As antigas vestes do padre, o altar antigo da igreja da terra, bem como alguns escritos que representam a história do templo, também compõem o cenário daquele espaço, que suscita as memórias de antigamente.

Uma vida de sofrimento

Para além dos engenhos expostos, entre os quais as tesouras para tosquiar, as cardas para trabalhar a lã, os sachos e os arados para trabalhar a terra, as lamparinas para alumiar e algumas loiças e utensílios de cozinha, encontra-se um mealheiro, onde os visitantes podem deixar o seu contributo para fazer melhorias no museu.
“Costumamos receber muitos visitantes, que vêm de diferentes pontos do País. Muitos deles até vêm de Espanha, só para conhecerem a nossa história e para satisfazerem a curiosidade de como se vivia antigamente”, acrescenta Irene Fernandes.
Apesar destes Museus Rurais estarem fechados, uma vez que nem todos os dias as aldeias recebem visitantes, os habitantes mais idosos das aldeias estão sempre prontos para recordar o “fado” de antigamente.
Com saudade, mas também com alguma amargura, os mais velhos falam do tempo em que se trabalhava de sol a sol e a comida escasseava.
São estas histórias, muitas delas curiosas, que encantam os visitantes dos Museus Rurais.