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Quem tem medo do IPB?

Qua, 08/02/2006 - 10:42


Em vésperas da eleição do novo Presidente do Instituto Politécnico de Bragança, Dionísio Gonçalves reuniu a Academia no passado dia 28 de Janeiro, nas comemorações do Dia do IPB.

Quando há 23 anos se publicava em Diário da República a criação deste estabelecimento de Ensino Superior, e a começar pelo próprio Prof. Dionísio Gonçalves, estávamos bem longe de imaginar as proporções que tal empresa viria a tomar. Hoje a Academia do IPB prepara-se para atingir a centena de doutorados, um número redondo, sem paralelo, nem com a dimensão física da obra realizada. É obra da coragem, da audácia, e também da irreverência perante os poderes instituídos, os políticos e os académicos, e Dionísio Gonçalves é, e será seguramente durante muito tempo, o seu protagonista. Por tal, a actuação do próximo presidente do IPB não poderá nunca deixar de ser comparada com, assim como responsabilizado por, este legado. Não será certamente empresa para qualquer um!
Quando o Prof. Dionísio Gonçalves assumiu a Presidência do IPB, mal tinha ainda começado a escassa e efémera democratização do Ensino Superior que veio a acontecer entre os meados das décadas de 80 e 90. Deparou-se então com as restantes academias que bem conhecia, tão elitistas quanto escassas, competindo pelos necessários recursos humanos em condições que não podiam ser mais desfavoráveis para o IPB. Durante anos, a situação periférica e a reputação de agreste da região demoveram doutores e mestres, e muitas vezes até licenciados, de se juntarem ao projecto do IPB. Perante tal adversidade, não restou outro caminho senão o de apostar na formação de base do seu próprio corpo docente. Foi então necessário aplicar recursos financeiros, sempre escassos, em formação em detrimento das infra-estruturas, o que prejudicou ainda mais o IPB. Pagaram-se propinas a Universidades que formando gratuitamente o seu próprio quadro docente, aproveitaram esses recursos financeiros acrescidos para se reforçar em termos de equipamentos e infra-estruturas; a repartição dos fundos comunitários tornou-se assim mais injusta e desfavorável para o IPB. Pese embora o contexto político e académico sempre desfavorável, e os sempre “Velhos do Restelo locais, o IPB fez frente a tudo isto.
O próximo presidente do IPB dificilmente encontrará uma conjuntura tão desfavorável quanto a que viveu o IPB durante o seu desenvolvimento. Serão diferentes os desafios que terá pela frente, mas terá de demonstrar a coragem, a audácia, e também a irreverência que Dionísio Gonçalves demonstrou para os superar. O desorientação e incompetência que tem caracterizado a tutela do Ensino Superior, assim como as políticas erradas de desenvolvimento regional dos sucessivos governos que se têm vindo a alternar no poder, conduziram o País à depauperação do seu sistema educativo. Hoje em dia, o sistema educativo português não consegue colocar no ensino superior nem sequer metade da percentagem média europeia de alunos que frequentam o ensino superior. Antes pelo contrário, assiste-se hoje à desertificação dos estabelecimentos de ensino superior, particularmente daqueles que em termos de geografia e subsistema, são mais periféricos; o IPB é o seu paradigma.
Com tal, ao próximo presidente do IPB serão exigidas coragem, audácia, e também irreverência, para reivindicar e obter de Lisboa, os recursos inerentes à sua excelência. Não será tanto para consubstanciar a estrutura interna desta instituição, alicerçada já na democraticidade dos seus órgãos de gestão, na coesão entre as suas unidades orgânicas, e no claro projecto de formação que representam as dezenas de formações que hoje são ministradas; terá antes de provar à tutela, o compromisso desde sempre assumido para com o desenvolvimento da região, com a excelência científica, e com a independência e autonomia que se exige a uma instituição como o IPB. Só alguém que reúna estas características poderá garantir o desenvolvimento futuro do IPB, não o deixando subjugado a particulares ambições pessoais ou corporativas, nem refém de cumplicidades políticas incompetentes. Para o conseguir, o próximo presidente do IPB terá de ser alguém com um mais que reconhecido curriculum nos meios académicos nacionais e internacionais, com uma mais que demonstrada capacidade de argumentação para negociar com a tutela, e uma mais que provada independência e autonomia dos meios políticos locais e nacionais.
Oxalá assim também o entenda o Colégio Eleitoral no próximo dia 15 de Fevereiro.

José Castro