Ter, 22/11/2005 - 16:58
Na verdade, depois da reforma tentada na 1ª República e que não foi levada a
cabo devido a uma instabilidade política enorme, só dois momentos importantes
de reforma foram tentados, uma com Veiga Simão e outra com Roberto Carneiro.
Todos os outros foram falhanços monumentais, basta lembrar o ministério de
Couto dos Santos.
Actualmente, é o descalabro. Estamos a caminhar lentamente para a anarquia
total dentro do ensino. A confusão é geral. Só quem não entende nada de
educação e de ensino é que é capaz de legislar no sentido de retirar
qualquer dignidade aos professores e aos alunos. E eu falo nos alunos porque
eles são por vezes esquecidos no meio de todas as reformas, a par dos
professores. Parece que as reformas são só para os governos fazerem flores!
Os alunos deverão ser tratados com igual dignidade e não arrumados para
dentro de uma sala qualquer, quando falta um professor. Mas de igual modo é
uma falta de respeito para com a Educação e o Ensino, obrigar um professor a
dar uma aula (???) de substituição a alunos que nem conhece. O que é que
acontece então?
É fácil descortinar que numa situação destas, nem os alunos aceitam bem que
um professor, que até nem é o deles, apareça na sala para substituir, de
alguma forma, o colega que está a faltar, nem os professores aceitam a
obrigação ilegítima de substituir um colega numa situação destas. Então,
não há aula e não havendo aula não há aprendizagem, não há ensinamento,
não há senão um descontentamento geral que conduz cada vez mais a uma
revolta de alunos e professores.
É verdade que alguma coisa tinha de ser feita em termos de Educação e
particularmente no Ensino. Todos sabemos que havia muitos desvios do rumo certo
e que era necessário implementar alguma organização mais séria nas escolas.
Estou de acordo com algumas medidas tomadas por este governo, principalmente no
aspecto organizacional, mas daí até deturpar o sentido de dignidade dos
professores e a sua profissão, é de mais. E quando se utilizam os professores
erradamente para servir de capa a estas reformas, dizendo que eles não
trabalham e que precisam de permanecer nas escolas mais tempo, eu pergunto se
é por aí que se ensinam os alunos ou, se é assim que os professores se
dignificam ou levam a educação mais a sério?! Decididamente que não!
Na verdade, é ridículo ver frequentemente nas salas de professores, quatro ou
cinco colegas, sem nada fazer, estando à espera que algum falte para outro ser
chamado a substituí-lo. É deprimente para os professores que se vêem numa
situação de substitutos, como se fossem um remendo necessário para tapar os
furos do sistema, mas também o é para os alunos que se vêm obrigados a
aceitar duas situações inesperadas: um professor diferente e a sujeição à
permanência na sala quando poderiam estar livres para realizar outras
actividades.
Quando as escolas estiverem equipadas com as necessárias infra-estruturas,
gabinetes para professores e material de trabalho capaz para que se faça na
escola o que normalmente se leva para fazer em casa, então sim, os professores
não estarão certamente contra a permanência nas escolas durante as 26 horas
apontadas. Mas nas condições actuais das escolas, que a senhora ministra
parece desconhecer, é que não. Por outro lado parece igualmente que a senhora
ministra desconhece que os professores também levam para casa o trabalho da
escola e que, se calhar, acabam por trabalhar mais do que as 35 horas que ela
tanto gosta de referir! Onde é que eles preparam as aulas? Onde fazem os
testes? Onde corrigem os testes? Onde corrigem os exames? Em casa, obviamente,
porque nas escolas não há condições. Será que a senhora ministra sabe
disto? Até onde chega a ignorância? É um atropelo completo.
Mais um falhanço na Educação. Decididamente, a educação não pode continuar
a ser um atropelo!