Ter, 10/05/2022 - 11:08
Os concelhos do Vale da Vilariça vão registar, este ano, perdas na produção de cereja. A confirmação é da câmara de Alfândega da Fé, Eduardo Tavares. “Pelo que tenho ouvido dos produtores, as quebras rondam os 30 a 50%, fruto das geadas”, esclareceu.
Festa da Cereja&Co arranca sem praticamente fruto para vender
O frio, que se fez sentir no começo de Abril, na Terra Quente Transmontana, é o responsável pela situação e é também a origem de a Festa da Cereja&Co ter arrancado, este ano, no fim-de-semana passado, sem praticamente cerejas para vender. A maturação do fruto está atrasada, o que fez com que o único produtor a vende-lo na feira, Luciano Silva, comercializa-se o quilo a dez euros, o dobro do normal. Natural de Bornes, produtor há 20 anos, tem 15 hectares de árvores e, por sorte, não deve ter grandes quebras. “Há terrenos, aqueles que são baixos, em que o gelo destrói mais a cereja. Se as árvores estiverem no croeiro, como as tenho, não se verifica essa situação”, clarificou, dizendo que espera colher cerca de 50 mil toneladas de cerejas, tal como no ano passado. O agricultor, que esteve emigrado no estrangeiro e regressou para investir na agricultura, confirmou ainda que “as cerejas estão atrasadas cerca de 15 dias”. “Noutros anos, por esta altura, tinha já 12 mulheres a apanhar cereja. Este ano ainda não tenho ninguém a apanhar porque ainda não as há”, vincou.
Cereja está demorada mas vem com qualidade
Entre pouco e nada vai uma distância significativa. E é assim, sem nada, que está Beatriz Reis. A agricultora, ao contrário de Luciano Silva, assegura que vai ter algumas perdas e lamenta ter começado a festa sem uma cereja para vender porque “está tardia”. “Isto não costuma acontecer mas o tempo mudou muito”, assumiu, vincando, ainda assim, que a qualidade está assegurada porque “há árvores muito bonitas”. Com menos hectares de árvores, a agricultora, que produz e vende outros produtos, assumiu ainda que “falta mão- -de-obra” e que a apanha, seja muita ou pouca, só se garante com o “apoio” da família, que dá sempre uma “mãozinha”. Qualidade do fruto também a garante Eduardo Tavares. O também presidente da câmara de Alfândega da Fé confirma que o fruto “está duas ou três semanas atrasado”, isso é ponto assente, mas “a qualidade não estará comprometida” e nos próximos dias “não faltará cereja no certame”.
Área de cerejal novo cresce
No total, em todo o distrito, segundo avançou o autarca, há mil hectares de cerejais. No Vale da Vilariça são cem. Destes cem hectares da Vilariça há, pelo menos, 25 que são bem recentes. Há cinco anos, a câmara liderada por Eduardo Tavares, e a Cooperativa Agrícola de Alfândega da Fé, que também presidiu, arrendaram ali 25 hectares de terrenos a jovens agricultores que “já estão todos plantados e a dar fruto”. No que toca concretamente a Alfândega da Fé, refira-se que são 80 hectares e desses há 60 que são hectares de área de pomar novo. “Não é muito mas é significativo porque são jovens agricultores que se instalaram, que estão a produzir num novo regime mais intensivo. A cooperativa já quase não tem pomares antigos. A maioria são pomares novos que nos dão esperança de termos mais e melhor cereja”, vincou o presidente de Alfândega da Fé.
Agricultores sem medidas específicas para a quebra
E perante as quebras na produção de cereja, questionada sobre possíveis ajudas a estes produtores, a directora regional de Agricultura e Pescas do Norte, Carla Alves, diz que não há medidas de apoio específicas, mas os agricultores não estão esquecidos. “As medidas são desenhadas para todos os sectores de agricultura que estão a passar dificuldades, sobretudo dificuldades associadas ao crescimento enorme dos custos dos factores de produção. Aquilo que o Ministério da Agricultura está a preparar é, neste momento, uma ajuda forfetária, com um envelope financeiro de 27,3 milhões. Até Setembro iremos pagar ajudas forfetárias para minimizar estes prejuízos dos agricultores”, esclareceu Carla Alves. Quanto ao facto de se estar a assistir assim a esta aposta nos pomares de cerejeiras, a directora regional de Agricultura e Pescas do Norte avançou que “há projectos de investimento em carteira”. “Espero que venham a ser aprovados brevemente para que a área de cerejal seja alargada”, sublinhou.
Festa anima Alfândega da Fé
A feira apresenta-se num formato renovado. Festa da Cereja&co é a nova designação da iniciativa, numa alusão à feira e ao mercado online, que nos últimos tempos serviu para vender produtos locais, já que não se podiam realizar certames presenciais. Joana Araújo, de uma empresa de transformação de amêndoa, é a primeira vez que faz a feira, mas diz gostar do formato, que “parece muito arejado” e com capacidade de receber “muita gente”. Lurdes Gabriel também é expositora. Vende fumeiro e participa há já várias edições. O formato também lhe agrada e espera que se venda “bem”, assumindo que “já fazia falta voltar”. Leopoldina Simões, do concelho de Alfândega da Fé, que participou em todas as feiras, vem para ajudar a “fazer a festa”. Vende doces caseiros com frutos que produz. Além das compotas vende doces regionais, que também fabrica, e garante que “dá para vender bem” porque “as pessoas procuram o que é tradicional”. A festa começou neste neste sábado e prolonga-se até dia 12 de Junho, acontecendo todos os fins-de-semana e feriados.