À procura das medicinas alternativas

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Ter, 31/05/2005 - 16:26


O entrevistado de hoje é Bruno Rodrigues, um jovem diplomado em terapias complementares, na área da Reflexologia. Nasceu em 1978, reside na aldeia de Sendas, concelho de Bragança, é casado e pai de dois.

Jornal Nordeste (JN) - Como foi a sua infância e juventude?
Bruno Rodrigues (BR) – Tive uma meninice muito simples e bastante calma, sempre com o apoio dos meus pais, o que é sempre bom. A juventude também foi normal, sem grandes vícios que me fizessem perder. Tive sempre bons amigos e o apoio das pessoas de quem gostava.

JN – Ainda é muito novo, mas já é pai de dois filhos. Como é ser um pai jovem?
BR – Sou pai por opção, porque entendo que é nesta altura da vida, enquanto se é jovem, que se deve ser pai. É agora que tenho mais paciência e a vida mais calma para lhes dar todo o apoio.

JN – Não é muito normal um jovem do interior norte do Portugal enveredar pelas medicinas alternativas. O que o levou a seguir este caminho?
BR – Desde a adolescência que me interessei pela área da nutrição e cultura oriental. Aos 18 anos, quando estava a acabar o Liceu, a minha mãe e a minha namorada trataram-se com terapias complementares, nomeadamente com a Reflexologia. Quando chegou a hora de escolher, em vez de fazer como os meus colegas e concorrer para um curso de Enfermagem, decidi optar por outra abordagem do ser humano.

JN – E o que são as Medicinas Alternativas, em particular a Reflexologia?
BR – É uma área da medicina, que se encontra ao lado da acupunctura, homeopatia e reflexologia, só para citar as mais conhecidas. Penso que não se devem chamar Medicinas Alternativas, porque Medicina só há uma. Fazem todas parte do mesmo, funcionando como um complemento e não alternativa. Muitas delas derivam da medicina tradicional chinesa, mas também há vários ramos, como a homeopatia, que não tem origem oriental.
Em linhas gerais, a Reflexologia é uma terapia que se baseia nas áreas reflexas do nosso corpo, como os pés e as mãos. É através delas que, a partir de diversas técnicas de manipulação e massagem, conseguimos tratar vários tipos de problemas.
Estimulando as zonas reflexas, vamos provocar um efeito benéfico nas partes do corpo que lhe estão associadas. É uma terapia que se baseia na medicina tradicional chinesa, que defende que no corpo humano circulam canais de energia. O desequilíbrio desses canais são os responsáveis pela maioria das patologias e estimulando-os podem resolver-se esses problemas.

JN – Como é que as pessoas desta região estão a reagir à Reflexologia?
BR – Aqui em Bragança e Miranda do Douro, onde também exerço, as pessoas já começam a reagir bem, porque já se fala mais da Reflexologia nas televisões e revistas. Ainda há quem olhe os reflexólogos com uns curandeiros, mas penso que as mentalidades estão a mudar.

JN – Sabemos que frequentou o Instituto Macrobiótico de Portugal. O que é?
BR – É um instituto que se dedica ao ensino e divulgação da filosofia macrobiótica, e acho que o consegue bastante bem. Sou praticante muito convicto da macrobiótica, porque assenta em dados científicos. Apesar da macrobiótica ser mais conhecida pela sua dieta, quase sempre associada aos vegetarianos, é muito mais do que isso. É uma forma de estar na vida e significa, literalmente, “grande vida”. É viver a vida de forma grandiosa e, através da alimentação, conseguir utilizar todo o nosso potencial e olhar para a beleza da vida, adoptando práticas mais saudáveis e naturais.
Hoje, muitas das pessoas que recorrem à macrobiótica fazem-no para ultrapassar determinados problemas de saúde, como o cancro e doenças cardiovasculares. Daí ser entendida como uma medicina alternativa, mas é muito mais do que isso.

JN – A dieta macrobiótica prevê o consumo de carne uma vez por mês. Em Trás-os-Montes isso é quase impensável…
BR – A realidade mostra que comer carne uma vez por semana, duas no máximo, é mais do que suficiente. Muitas vezes come-se todos os dias, o que vai acarretar graves problemas de saúde. As proteínas são muito importantes, mas não precisam de ser de origem animal. Consegue-se consumir boas proteínas cruzando cereais com leguminosas, frutos secos e derivados de soja.
Pensando na região, tenho um centro de macrobiótica pensado para a zona de Bragança, que deverá ser uma realidade ainda este ano. Já há várias pessoas envolvidas e acho que vamos marcar a diferença ao tentar ensinar os transmontanos que comer menos ou nenhuma carne pode ajudar a melhorar a nossa saúde.
Acho que trazer outro tipo de conhecimento pode ajudar os jovens a não saírem da região. Aqui em Bragança, qualquer coisa que se faça tem que ser com muito cimento e penso que se dá pouca importância aos espaços verdes. É preciso mudar esta maneira de pensar, para que os jovens possam agarrar outras actividades ligadas à natureza.

Entrevista de Marcolino Cepeda, Rui Mouta e Mara Cepeda