Preço da azeitona em queda desde há três anos

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Ter, 10/12/2019 - 11:10


“Aqui no meu lagar começámos com 25 cêntimos o quilo. O que originou isto foi o preço a que o azeite estava a ser comprado. Acabei de falar com um comprador e ofereceu-me 2,20 euros por um azeite virgem extra. Isto não é nada”, começou por dizer indignado Jorge Pires, do Pró-Lagar de Mirandela, acerca do preço da azeitona que está a ser praticado na região.

Este ano, a azeitona está a ser paga ao produtor a pouco mais de 25 cêntimos o quilo, ao passo que, no ano passado, estava a ser paga a 40 cêntimos e há dois anos a 60. Mas não só o preço da azeitona tem vindo a causar constrangimentos aos produtores e lagareiros. Também o preço do azeite, a nível mundial, tem vindo a descer com o passar das campanhas. “Ontem o azeite virgem extra andava à volta dos 2,10 euros e no ano passado, por esta altura, estaria pelos 3 ou 3,10 euros, baixou um euro”, afirmou o presidente da Associação dos Produtores em Protecção Integrada de Trás-os- -Montes e Alto Douro, Francisco Pavão. A causar a baixa de preço da azeitona não está apenas a queda do preço do azeite, mas também olivais modernos a competir com os tradicionais. Outra das causas é o baixo rendimento da azeitona, nesta campanha, o que significa que para produzir a mesma quantidade de azeite é preciso mais matéria-prima. Jorge Pires mostrou-se preocupado com a situação, não só enquanto lagareiro mas também enquanto produtor, e considerou que para quem “transforma azeitona, com estes valores, é um negócio complicado”, assim como para o agricultor, uma vez que os custos de produção são elevados. 

Olivais tradicionais vs modernos

O Alentejo tem a maior área de olival e é também a região que mais azeitonas e azeite produz em Portugal. Isto deve-se às técnicas de regadio utilizadas no Alqueva e à transformação de olivais tradicionais em modernos. Quanto a Trás-os-Montes, os olivais ainda são tradicionais. “No Alentejo as produções são maiores por hectare, sobretudo no olival de regadio, e em Trás-os-Montes cerca de 90% da área é de sequeiro”, explicou Francisco Pavão, considerando que as alterações climáticas são uma das causas da fraca produtividade do olival. “Assim é mais difícil competir com estes preços tão baixos”, sublinhou. Desta forma, o presidente da Associação dos Produtores em Protecção Integrada de Trás-os-Montes e Alto Douro acredita que o caminho para sucesso, isto é, o aumento da venda e preço do produto, passa pela produção de qualidade. Apontou que é necessário valorizar os olivais tradicionais e criar “pequenas barragens” que servirão de apoio à rega dos agricultores. “Numa região que não tem condições para produzir em quantidade, o caminho que temos é a qualidade e a aposta no mercado que valorize a diferenciação dos azeites”, salientou Francisco Pavão, destacando que a região tem capacidade enorme para “produzir azeites de qualidade”. Em 2018, 80% dos prémios do Concurso Nacional Azeite de Portugal nasceram em olivais tradicionais, característicos na região.

Jornalista: 
Ângela Pais/Carina Alves