Ter, 21/11/2006 - 10:22
Pimenta de Castro e Eliseu Amaro são dois dos promotores da iniciativa, baseando-se no facto da posta “ser a grande embaixatriz da cozinha rural trasmontana”. O primeiro é professor do ensino secundário e membro da Confraria dos Gastrónomos e Enófilos de Trás-os-Montes e Alto Douro. O segundo é chefe de cozinha e proprietário do restaurante Lareira, em Mogadouro.
Tendo em conta que a posta se come durante todo ao ano, os mentores da nova confraria consideram que os restantes produtos da gastronomia transmontana, como é o caso do fumeiro, poderiam ter um capítulo anual.
“A região precisa de eventos bem definidos, que possam trazer pessoas de outras zonas do País durante o ano inteiro”, defende Eliseu Amaro, que exemplifica com o caso do restaurante que dirige. “Ao fim-de-semana, há pessoas que se deslocam do Norte do país, em especial do Grande Porto, para apreciar a Posta à Mirandesa, ao passo que os espanhóis também já começam a procurar este prato de carne”, assegura o chefe de cozinha.
Segundo os promotores, a ideia da Confraria pode, também, ajudar os criadores de gado a valorizar o produto e a arranjar novos mercados no exterior, uma trabalho que tem vindo a ser conduzido pela Associação de Criadores de Bovinos de Raça Mirandesa.
Estes são, de resto, alguns dos motivos que poderão pesar na criação da Confraria da Posta à Mirandesa, que pode ser uma realidade a médio prazo, dado que já existem contactos com entidades locais e regionais neste sentido.
De comida de tabernas e feiras, a posta passou a verdadeiro ex-libris da gastronomia transmontana
Longe vão tempos em que “La Puosta” (em mirandês) era comida de tabernas, feiras e festas populares, das quais há registos do século XVIII.
Na região houve sempre pontos de referência para um manjar de posta, como é o caso da Feira do Gorazes (Mogadouro) e Feira dos Burros (Sendim), bem como locais de culto e romarias realizadas nos santuários do Naso e da Senhora da Luz, ambos no concelho de Miranda do Douro.
Maria Ginja, uma taberneira ambulante de Sendim, é um dos símbolos deste prato tradicional, pois continua a servir o naco de carne em diversos certames da região.
No passado, as vitelas eram mortas no local da feira, em vésperas de “saltar” para a grelha. A carcaça ficava em exposição, para depois ser cortada aos nacos e assada em lume brando, somente com um pouco de sal.
E, como pratos não era coisa que abundava nas tendas dos taberneiros, a carne era assada e colocada directamente em cima de um pedaço de pão para ser cortada com um canivete artesanal chamado “peliqueira”.
A apresentação do prato foi evoluindo, muito à custa da D. Gabriela, que em Sendim montou um restaurante responsável pela projecção da posta, principalmente durante a construção dos empreendimentos hidroeléctricos do Douro Internacional.
Hoje a posta à mirandesa é apresentada de várias formas, mas “la Puosta será sempre la Puosta”.