Ter, 14/02/2006 - 16:01
Talvez porque, num monte isolado, se erga uma construção única na região ou porque a população da aldeia enfrentou várias “lutas” para conseguir recuperar este edifício, orgulho da freguesia, que se encontrava num avançado estado de degradação.
São muitas as lendas, do conhecimento de todos, ligadas ao nome do Santo. Uma habitante na aldeia, Bernardete Baía, conta: “São Tomé e São Tiago vieram com os seus companheiros. No entanto, apenas São Tomé ficou por cá”. Cabanelas, uma localidade vizinha, “disputava” com Abambres a presença do Santo e este, de modo a evitar conflitos, escondia-se na fenda de um carrasco. A árvore, salientou a moradora, “ainda hoje existe e é respeitada por toda a população”.
Também o próprio imóvel está ligado a histórias relatadas pelas gentes da aldeia. Conforme relata Bernardete Baía, “o construtor da obra original, ficou falido após a sua conclusão e, por isso, atirou-se de um fontanário”. O corpo, dizem, “estava no sarcófago de pedra em frente da Igreja”.
IIP desde 1982
Distinguida como Imóvel de Interesse Público (IIP) em 1982, pelo Instituto Português do Património Arquitectónico (IPPAR), a Igreja de São Tomé é o único exemplar da arquitectura românica do concelho de Mirandela, embora tenha sido alvo de recuperações ao longo dos séculos XVI e XVII.
Vistoriada em 1995, pela Direcção Regional dos Edifícios e Monumentos do Norte (DREMN), o imóvel foi encontrado num profundo estado de degradação, tendo a DREMN decidido intervir no imóvel, de imediato, a fim de evitar a ruína iminente da cobertura da nave e da sacristia.
Iniciou-se assim, na década de 90, juntamente com a população, o restauro do património, que foi concluído em 1999.
Ao todo, segundo um antigo membro da Comissão Fabriqueira, José Madureira, foram “13 empreitadas, que restauraram tudo”.
Hoje, já totalmente recuperada, a Igreja de São Tomé, é “anunciada” na Estrada Nacional (EN) 315, com uma placa que indica “Monumento Nacional” (MN). A sinalética não teria nada de extraordinário, não fosse o facto do templo ter sido classificado como IIP e a informação induzir muitos visitantes em erro.
Questionadas sobre o “engano”, são diversas as entidades envolvidas no assunto, sem que, no entanto, nenhuma se comprometa.
José Madureira contou ao JORNAL NORDESTE que pediu as primeiras placas, “porque muitas pessoas não sabiam onde era a Igreja”. Contudo, segundo relata, todo o processo foi sempre realizado com o conhecimento da DREMN, da Junta Autónoma de Estradas, em Bragança (actual Estradas de Portugal, E.P.E (EP) e da Câmara Municipal de Mirandela (CMM).
Contactada a DREMN, Sónia Pinto Basto, avançou que a entidade “não aconselhou a colocação dessa informação nas placas e nem teve conhecimento do erro na sinalética”.
Na Direcção de Estradas de Bragança, Cordeiro Fernandes, adiantou que “alguém terá dado a informação e nós, simplesmente, colocamos a placa”. O director de Estradas acrescentou, ainda que “é difícil verificar se todas as indicações correspondem à realidade”.
Já na CMM uma fonte revelou que é difícil apontar responsabilidades, mas que “terá sido a Junta de Freguesia ou a Comissão Fabriqueira de Abambres a requerer a sinalética que a entidade competente apenas colocou”.
O facto de estar indicado como MN e não IIP, como deveria ser, não retira o valor histórico e cultural ao templo, mas é certo que a sinalética induz em erro quem pretende visitar o património.