Pauliteiras alastram no Planalto

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Ter, 14/11/2006 - 15:07


Quatro grupos de pauliteiras subiram ao palco no I Encontro Nacional de Grupos de Pauliteiras, que decorreu, no passado sábado, em São Martinho do Peso, concelho de Mogadouro.

A iniciativa, organizada pela Junta de Freguesia, foi integrada na Feira de São Marinho. À medida que os grupos perfilavam, o nervosismo aumentava, já que era preciso demonstrar a afirmação feminina num espaço etnográfico que, durante vários séculos, pertenceu a homens. Naqueles tempos, quanto mais forte batiam com os paus, mais altos e enérgicos eram os saltos e mais depressa cada grupo marcava o seu espaço.
A tradição das danças dos paus é o expoente máximo do folclore do Planalto Mirandês, onde as mulheres só viriam a ter lugar no início da década de 80, com o aparecimento do primeiro grupo, em Bemposta, que viria a desfazer-se seis anos após o seu início.
“ Na altura em que o nosso grupo começou, em Bemposta, não havia muitos homens para manterem a tradição dos pauliteiros, pelo que foi preciso recorrer às mulheres. O nosso ensaiador ainda trabalhou connosco meia dúzia de anos, mas após o seu falecimento o grupo acabou”, afirmou Amélia Folgado, uma das primeiras pauliteiras do Planalto Mirandês.

Pauliteiras afirmam dar mais importância a um bom jogo de pés acompanhado por movimentos elegantes, enquanto os homens gostam, apenas, de bater os paus com força

No entanto, esta antiga pauliteira conta que o grupo ainda deu a conhecer as danças dos pauliteiros no feminino, em vários pontos de Trás-os-Montes, quebrando a tradição masculina.
O grupo de pauliteiras de Valcerto deu um novo impulso às danças dos paus. Actualmente, são cerca de meia centena de raparigas, em todo o Planalto Mirandês, com idades entre os 4 e os 30 anos, que, com a sua leveza e graciosidade, fazem “corar” os homens de barba rija que se dedicam a esta dança.
Flávia Felgueiras, um dos elementos do grupo de pauliteiras de Valcerto, diz que “o importante não é bater com força nos paus, mas fazer um bom jogo de pés e movimentos elegantes, situação que não típica nos homens, que gostam, apenas, de bater com força.”
Se no início havia pessoas que se mostravam relutantes ao verem as pauliteiras a dançar, agora a situação é encarada com normalidade.

“Moda” no feminino poderá transformar-se numa tradição do Planalto Mirandês

O director do Centro de Musica Tradicional “Sons da Terra”, Mário Correia , diz mesmo que a dança dos paus no feminino é uma moda.
“O que se está a passar pode mesmo tornar-se numa tradição: serem as mulheres a dançarem as danças dos paus, já que a modas se podem transformar em tradição”, acrescentou o responsável.
Durante o espectáculo, as opiniões eram muitas, mas todos se mostravam a favor das pauliteiras. Os aplausos foram subindo de tom e, no final, todos juntos conseguiriam dançar as “Campanitas de Toledo”, um dos “lhaços” mais conhecidos da dança dos paus nas Terras de Miranda
“Para mim, isto é uma nova era. Hoje estamos num período em que se debate a igualdade dos sexos. As mulheres têm o mesmo direito de dançar. Por exemplo, Miranda do Douro nunca teve um grupo de pauliteiros, mas agora tem pauliteiras”, concluiu o director do Museu Terras de Miranda, António Mourinho.