Património ferroviário esquecido

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Ter, 31/10/2006 - 15:02


Portugueses e espanhóis reuniram-se, anteontem, em Barca d’Alva, distrito de Guarda, para recordarem a antiga linha de caminho de ferro que ligava aquela localidade portuguesa a La Fuente de San Esteban (Espanha).

Os presentes pretenderam, ainda, sensibilizar a opinião pública e o poder político, para o estado de degradação em que se encontra a infra-estrutura, tanto ao nível dos carris como das estações. “Realizamos esta festa com o objectivo de reivindicar e chamar a atenção para o potencial que esta linha tem”, referiu Manolo Martin, membro da organização do evento.
Para o responsável, a acção dos Governos português e espanhol é muito lenta, o que dificulta, ainda mais, a tarefa de recuperar o que resta da ferrovia. “O tempo joga contra nós, pois as estruturas vão ficando muito danificadas e mais difícil de recuperar”, lamentou Manolo Martin.
A reutilização da antiga linha-férrea traria, na óptica do responsável, diversos benefícios às populações e regiões envolventes, como a dinamização das localidades “abandonadas” e desertificadas. “Apesar de se verificar muita oferta turística, é urgente criar e recuperar equipamentos de apoio aos visitantes e combater, assim, a perda de habitantes”, sustentou Manolo Martin.

Linha-férrea trouxe a fama à localidade portuguesa de Barca d’Alva

Recorde-se que a construção da linha de La Fuente de San Esteban (Espanha) a Barca d’Alva foi concluída em 1887 e encerrada ao tráfego passados quase 100 anos, em 1985. Uma vez que é considerada um projecto único de engenharia civil, o Ministério da Cultural espanhol classificou-a, em 2000, de “Bem de Interesse Cultural”, com a categoria de “Monumento”. No entanto, o equipamento distinguido encontra-se actualmente num estado de abandono avançado, o que levou à fundação do grupo “Caminho-de-ferro”, em 2003. Formado por 13 municípios, o organismo propõe a reabilitação, reutilização, preservação e revalorização desta infra-estrutura para fins turísticos e culturais. Assim, visam beneficiar a linha com os meios necessários para que se possam promover um variado leque de actividades, como o turismo, e que, deste modo, combatam a desertificação e despovoamento. Esta luta é “materializada”, todos os anos, com a realização de uma festa, como a de anteontem, que incluiu uma exposição fotográfica, leitura de poemas e animação musical a par de material circulante.
De referir que, entre 1988 e 1992, a CP encerrou cerca de 300 quilómetros de linha-férrea nos distritos de Bragança, Guarda e Vila Real. À excepção do troço Moncorvo – Larinho, na antiga linha do Sabor, que foi transformado em ecopista, o que resta dos canais ferroviários continua ao abandono.