Passeio geológico por terras de Moncorvo

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Ter, 03/10/2006 - 16:26


Apesar do mau tempo, mais de vinte pessoas, de diversos pontos do país, participaram na acção intitulada “Geomorfologia e Património Geológico da região de Moncorvo e sua relação com a actividade humana”, promovida pela associação do PARM (Projecto Arqueológico da Região de Moncorvo), com o patrocínio do programa Ciência Viva.

O objectivo desta iniciativa, que decorreu nos dias 23 e 24 de Setembro, era dar a conhecer a importância geológica da região de Torre de Moncorvo, onde se situa a maior jazida de minerais de ferro da Europa e uma das maiores do mundo, cujas estimativas apontam para valores entre os 670 milhões e os mil milhões de toneladas de minério (sobretudo hematite, embora com alguma magnetite).
Por outro lado, pretendeu-se explicar a origem da falha tectónica da Vilariça, na origem do vale do mesmo nome, que se prolonga quase desde Bragança até Manteigas, na Beira Alta. Trata-se de uma falha com alguma sismicidade activa, responsável pelo pronunciado meandro do rio Douro, em torno do monte Meão.
Era ainda objectivo da organização, a cargo do jovem geólogo Rui Sousa e Rodrigues e do responsável do Museu do Ferro, Nelson Campos, estabelecer uma relação entre a geologia e a acção humana, seja a nível do aproveitamento mineiro, seja a nível agrícola (exploração dos aluviões do vale da Vilariça), ou ainda através do aproveitamento dos materiais geológicos de base, para a construção (xisto ou granito).

Ciclo do Ferro

A recepção dos visitantes decorreu no Museu do Ferro & da Região de Moncorvo, no dia 23 de Setembro, estando presente o presidente da Câmara Municipal, Aires Ferreira. Aqui se procurou fazer uma introdução teórica sobre a geologia local e regional, seguindo-se uma visita ao Museu do Ferro & da Região de Moncorvo, onde foi explicado o ciclo do Ferro, desde a extracção, metalurgia e trabalho dos ferreiros das forjas. Para além da observação de amostras geológicas, foi contada a história do aproveitamento do ferro das minas de Torre de Moncorvo, desde a época romana até aos trabalhos da empresa Ferrominas, na segunda metade do séc. XX. Esta empresa mineira, que empregou quase duas mil pessoas, no auge da sua actividade, nos anos 50, viria a encerrar nos meados dos anos 80, acabando por ser extinta no início da década de 90.
No mesmo dia, da parte da tarde, foi visitado um escorial de ferro em Lamelas, onde se encontram resíduos de fundição anteriores ao séc. XVIII, as minas da Carvalhosa (galeria e exploração a céu aberto), galerias do cabeço da Mua, bairro mineiro da Ferrominas, e ainda a aldeia do Felgar, onde se encontra outro importante escorial de ferro, sob a capela de Santa Bárbara (padroeira dos mineiros). Particularmente emocionante foi a visita às galerias da Carvalhosa e do cabeço da Mua, rompendo a escuridão com o recurso a gasómetros, tal como o faziam, nos seus inícios, os antigos mineiros da Schneider (empresa alemã que fez sondagens nas minas de Moncorvo, nos anos 30) e da Ferrominas.

As origens do Vale da Vilariça

Já no dia 24, os visitantes puderam vislumbrar o vale da Vilariça a partir do miradouro de S. Gregório, ouvindo as explicações sobre a origem geológica deste vale, assim como aspectos relacionados com a sua história. Neste capítulo, visitou-se a igreja românica de Adeganha, construída em granito, o sítio arqueológico do Baldoeiro, situado entre imponentes rochedos graníticos, e a vila deserta de Santa Cruz da Vilariça, com fortes muralhas xisto, a pedir um restauro urgente.
Para além das minas de ferro da serra do Roboredo, foi salientada a existência de outras minas, sobretudo de volfrâmio, cuja exploração constituiu uma verdadeira “febre” nos meados do séc. XX.
Recorde-se que em Torre de Moncorvo existiu uma outra empresa mineira, denominada “Mineira da Abeleira”, que se dedicava à extracção e comercialização do volfrâmio, cuja sede funcionava no largo Balbino Rego, ao lado do Museu do Ferro. Neste museu guarda-se diversa documentação sobre esta empresa mineira, menos conhecida do que a célebre “Ferrominas”, apesar de lhe ter sido contemporânea.
Esta iniciativa, inscrita no Ciência Viva/Verão 2006 e Ciência.Inovação 2010, foi apoiada pelo Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional (FEDER), contou ainda com o apoio logístico do Museu do Ferro & da Região de Moncorvo e do Município de Torre de Moncorvo. Estes apoios permitiram que as inscrições fossem gratuitas.