PALAS à beira o fim

PUB.

Ter, 10/01/2006 - 14:56


A falta de condições de vida e às más acessibilidades não deixaram alternativas aos habitantes da aldeia de Palas, no concelho de Vinhais, que decidiram abandonar a localidade.

Quem deixou a aldeia para construir casa junto à EN 103 conta que, em pleno século XXI, é impensável viver num aglomerado sem saneamento básico, com ruas por calcetar, água imprópria para consumo e um caminho de acesso em terra batida.
“Vivi lá em baixo, em casa do meu sogro, durante cerca de três anos. Quando ele faleceu, como a aldeia não tinha condições e os acessos eram muito maus, decidi fazer a casa aqui ao pé da estrada”, enfatiza António Nascimento, um dos moradores de Palas.
O caminho que liga a EN 103 à aldeia foi, desde sempre, o principal problema sentido por quem precisa de se deslocar à sede de concelho para ir ao médico ou tratar de outros assuntos em serviços públicos.
“As pessoas saíram da aldeia porque, para apanharem um simples autocarro, tinham que percorrer mais de três quilómetros por um caminho em terra batida que, muitas vezes, se tornava intransitável nos Invernos mais rigorosos”, acrescentou Mário Rodrigues, que morou no centro da aldeia de Palas durante cerca de 31 anos.
Foi assim que os mais jovens abandonaram a localidade em busca de melhores condições de vida e, mais tarde, os mais idosos foram obrigados a deixar as suas casas e partir para junto dos familiares.

Acessos intransitáveis

Neste momento, o centro da localidade está praticamente abandonado, pois apenas serve de morada a um habitante. “O meu irmão ainda mora lá, numa casa de herança, mas só já vai lá dormir, porque trabalha fora e, como a aldeia não tem condições, passa lá pouco tempo. Também há um casal de emigrantes que ainda passa as férias na aldeia, porque tem lá a casa”, salienta Mário Rodrigues.
Para contornar a situação sem sair de Palas, os populares decidiram construir casa junto à EN 103, para ficarem mais perto da sede de concelho e outras localidades vizinhas.
“Morei lá em baixo 11 anos, mas fui obrigada a vir para o pé da estrada por causa dos transportes, porque se a gente se encontrasse doente era complicado sair de lá”, sublinha Cremilde Rodrigues.
O êxodo foi de tal forma grande que, actualmente, apenas vivem cinco famílias junto à EN 103, naquela que consideram a nova aldeia de Palas. E, se todos estão mais perto de Vinhais, o certo é que ninguém hesita em lamentar o abandono a que a aldeia foi votada, fruto do esquecimento dos sucessivos autarcas que estiveram à frente da Câmara Municipal de Vinhais (CMV).

Habitantes obrigados a
abandonar a aldeia

“Naquela aldeia havia falta de tudo e até a água canalizada era imprópria para beber. Nunca houve ninguém a fazer melhoramentos. Há cerca de 10 anos viviam em Palas cerca de 30 pessoas. Eu era o único que tinha carro e acabava por servir de táxi, mas havia ruas onde mal passava uma pessoa, quanto mais um carro”, lamenta António Nascimento.
Quem se desloca à aldeia de Palas, nos dias de hoje, encontra um amontoado de casas fechadas e em ruínas, onde paira o silêncio no meio de montes esmagadores.
Mesmo assim, alguns antigos moradores tentam contrariar esta tendência, pelo menos uma vez por ano. “A gente tem saudades do sítio onde nasce, por isso, no mês de Agosto, ainda fazemos lá em baixo a parte religiosa da festa em honra de S. José”, lembra Cremilde Rodrigues.
Confrontado com esta realidade, o presidente da CMV, Américo Pereira, afirma que a autarquia vai criar as infra-estruturas necessárias à face da estrada, nomeadamente rede de saneamento básico e uma igreja, tendo em conta que foi este o local escolhido pelas pessoas para erguerem as novas moradas.