class="html not-front not-logged-in one-sidebar sidebar-second page-node page-node- page-node-165024 node-type-noticia">

            

Os professores e a sua luta

Ter, 28/11/2006 - 12:11


Os professores têm estado muito activos contra a Ministra da Educação, poupando Sócrates. E até os inimigos internos de ontem (sindicatos, uns contra os outros) conseguem juntar-se em greves e manifestações, hoje.

Terão os professores razão? Quanto ao modo, parece que a têm. Quanto à substância, não têm nenhuma. Expliquemos.
Em tudo o que fazemos na vida existe o objectivo que queremos alcançar e o meio ou meios (incluindo aqui as actividades a realizar) com os quais o queremos ou podemos realizar. Por vezes, os meios e as actividades destroem por completo a possibilidade de alcançar o objectivo correctamente. Acresce que os homens não são santos e, por isso, só com muita perserverança são levados a aceitar coisas de que não gostam. É assim com todos, não só com os professores.
Na «guerra» que contrapõe os professores à Ministra existem quatro questões principais: as aulas de substituição, a avaliação, a limitação provável do dinheiro que era expectável vir a receber e, por último, a desigualdade relativamente a outros corpos especiais da função pública.
Relativamente às aulas de substituição, dado o excesso de professores, era bem melhor ter constituído uma bolsa de docentes para cada escola e saírem os professores substitutos dessa bolsa. Além de que pôr professores de matemática a dar francês deve ser um equívoco. Portanto, o objectivo das substituições é excelente, o método foi inadequado. E muito mais inadequado é com pessoas que foram educadas para a irresponsabilidade e para o diletantismo. Não apenas os professores: todas as classes intelectuais portuguesas. Só estão bem no «duolce far niente» e a dizer mal do vizinho. Os que superaram estes dois atributos (e é admirável que foram muitos) são excelentes e santos mas, no dicionário do funcionário público português, são ingénuos, gostam de se armar e atraiçoam o engenho trapaceiro dos colegas.
A avaliação. Ah! A maldita avaliação. Então, foi o PS de Guterres, Marçal Grilo e Ana Benavente a acabar com o exame de acesso ao 8º escalão e vem, agora, outra vez o PS, dizer que tem de haver contingentação da progressão aos últimos escalões? Isso era discurso da Drª Manuela Ferreira Leite, honra lhe seja feita! E lá deram cabo de outro objectivo excelente, a avaliação. Porquê? Porque a misturaram com a tal contingentação da progressão na carreira e não com o mérito dos professores. Avaliação, para os professores, tem soado a limitação de oportunidades. Não a selecção pelo mérito. Mataram a avaliação como processo de desenvolvimento profissional. Associaram-na a limitação do dinheiro que os professores esperavam vir a receber.
O processo desta limitação foi ingénuo. Sendo absolutamente necessário reduzir as despesas do Estado, o que, na minha análise, implicará o abaixamento das despesas de todos os sectores do Estado, em igualdade de circunstâncias, e é um desígnio nacional, não percebo por que é que foram escolhidos só os professores para serem as vítimas deste abaixamento. Por serem 160.000 técnicos superiores? Por a sociedade, em geral, ter construído uma má imagem dos professores? Por o resto dos funcionários públicos ter inveja dos professores e apoiar o seu espezinhamento? A verdade é que é injusto os professores pagarem a crise sozinhos. A crise e os erros passados têm de se expiados. Mas, porquê só os professores? Os juízes, os médicos, os enfermeiros, os técnicos superiores em geral, etc.. são melhores? Recomendo a leitura das teorias da justiça de Carlos Estêvão, de John Rawls ou de Joseph Walzer e o seu princípio da equidade.
Tenho um apreço especial por esta ministra e pelo seu martírio. Só uma pessoa excelente podia aceitar este calvário. Vai conseguir ultrapassá-lo mas pode não lhe sobreviver. A sobrevivência política é, muitas vezes, devoradora e injusta. E será pena perder uma ministra tão excelente, tão abnegada e tão credora do reconhecimento do país.
Os professores, esses, perceberão um dia quanto os maus sindicatos que têm traíram os seus interesses e quanto as oposições políticas medíocres distorcem a realidade.

Henrique Ferreira