OS ÓSCARES CÁ DA TERRA

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Ter, 09/08/2005 - 17:03


Integrado nas comemorações do Dia do Desporto, a Câmara Municipal de Bragança, em colaboração com as várias entidades do concelho ligadas ao desporto, teve a brilhante ideia de agraciar, no dia 25 de Junho, um conjunto de personalidades que se destacaram, nas diferentes modalidades desportivas, como forma de agradecimento pelos serviços prestados à comunidade.

Embora não tenha estado presente na cerimónia de atribuição dos prémios – a mesma foi resumida numa interessante e bem elaborada revista, lançada pelo município, à qual tive acesso – não deixo de reservar um pequeno comentário relativamente a esta iniciativa, que teve, julgo, como principal propósito, além da distinção individualizada de 23 figuras, contrariar a cultura do não mérito, tão disseminada no país do trocadilho, da anedota e da piada fácil.
É do senso comum que este tipo de manifestações, por mais exemplares que se revelem, a nível de organização, e por mais imparcial que seja a postura de quem é designado para a delicada tarefa de escolher os Eleitos, são, não raro, susceptíveis de julgamentos precipitados e, quantas vezes, injustos. Pelo que, quando acontece, o desagrado manifesta-se por meio do normal comentário, da simples ignorância (consciente) do acontecimento, pela ausência física, etc.
Duma coisa não se pode duvidar: aqueles a quem foi incumbida a responsabilidade do acto de decisão, de julgar, de premiar este ou aquele atleta, este ou aquele dirigente desportivo, agiram em consciência e convencidos de que, dentro dos predicados previamente estabelecidos, as escolhas recaíram nas pessoas certas.
Recuperando a ideia anterior, o que verdadeiramente causou estranheza aos presentes mais atentos foi a não cobertura do acontecimento, por parte de certos órgãos de comunicação social locais, cuja “falha” teve, obviamente, várias interpretações. A este propósito, e com alguma ironia, alguém gracejava: “ então, dão amplo destaque ao torneio de futebol de Salsas e de Carragosa, e ignoram um evento de tanta relevância social.”
A minha opinião em relação aos galardoados cinge-se à disciplina com a qual tenho uma certa familiaridade: o futebol. Nesta área, fiquei particularmente satisfeito com a distinção de duas personalidades, por quem tenho uma profunda admiração e grande estima: o Dr. José Moreno e o Sr. Jorge Nogueira. Afora a exemplar dedicação à causa a que abnegadamente se entregaram, há vários anos, o requisito da dimensão humana, traço que ambos possuem, seria suficiente para os consagrar.
Houve, no entanto, duas distinções que não me deixaram indiferente: a condecoração, póstuma, do Paulo Meneses, que reflecte, acima de tudo, a nobreza de carácter e a elegância de quem teve essa ideia; e o reconhecimento do trabalho do Tony Rodrigues, sem dúvida o jornalista desportivo mais documentado da região e, porventura, um dos mais profissionais.
Dentro do que julgo ter sido um sucesso, eu, como bragançano, como sócio e simpatizante do Grupo Desportivo de Bragança, não podia deixar de registar um lapso, que só por distracção me passaria ao lado: quando se fala da mais importante e mais emblemática instituição desportiva do distrito, o G. D. Bragança, vem-nos à memória três personalidades que, de diferentes maneiras, a ela estão intrinsecamente ligadas, pelo que a serviram, devotamente, sem quaisquer recompensas materiais: José Tiago e Orlando Pachilro( se me é permitido tratá-lo neste tom informal), como dirigentes exemplares, e Chico Ferreira, como atleta virtuoso e sempre disponível. Contudo, estas individualidades foram – admito que inconscientemente e por falta de informação histórica do clube, da parte de quem teve a incumbência de indicar os nomes – ignorados. Honrarias, diga-se, que os próprios, porque cidadãos modestos e despretensiosos, certamente não reclamarão.
Como sugestão, diria que este género de galas se deveriam realizar anualmente, e extensíveis às mais diversas áreas da sociedade. Afinal o acto de prestar tributo a quem verdadeiramente se destaca por mérito próprio, pode ser uma forma de dizer não aos triunfadores de vão de escada.