class="html not-front not-logged-in one-sidebar sidebar-second page-node page-node- page-node-162966 node-type-noticia">

            

PUB.

Os colóquios de Baçal

Ter, 10/01/2006 - 16:05


Baçal, dia 7 de Janeiro, 15:30 horas duma tarde fria e com a chuva a espreitar a todo o momento. O mordomo faz a chamada e toma nota dos faltosos, enfrentando rostos que acusam uma noite sem dormir.

“Presente”, diz um mascarado que não quis faltar a mais uma ronda pela aldeia. “Paga”, diz o grupo em uníssono, quando o mordomo pronuncia o nome de mais um faltoso.
As multas são pagas em dinheiro e, segundo contas dos dias de hoje, mais vale faltar a uma ronda do que a uma alvorada. Em dia de Reis, jovem que, ao romper do dia, não estiver de pé ao som da gaita, do bombo e da caixa tem de desembolsar 300 euros, ao passo que trocar a ronda por uma sesta “só” custa 100 euros. O pior é a multa para quem faltar à missa, que ascende aos 1.000 euros!
São estas sanções que contribuem para manter o olho aberto na Festa dos Reis ou dos Rapazes, que toma conta de Baçal na primeira semana de Janeiro, com rondas durante o dia, bailes pela noite dentro, mesas fartas e “colóquios” recheados de crítica social.
Sábado à tarde reunia-se o grupo de participantes para um peditório pelas ruas desta aldeia do concelho de Bragança. Objectivo: desejar bom ano a todos os moradores e recolher fumeiro para o jantar daquele dia. A entrega das chouriças ou salpicões é feita, muitas vezes, à janela de casa, onde mulheres generosas se abeiram para colocar a oferta na vara do mordomo.

Baile para todos

Enquanto se recolhem as oferendas, mascarados manifestam-se de forma ruidosa e tentam travar a passagem dos automóveis que se atrevem a percorrer as ruas. Grupos de jovens, alguns deles forasteiros, não se cansam de disparar a máquina fotográfica para captar momentos verdadeiramente mágicos, enquanto as colunas de som montadas na Casa do Povo debitam amostras da música popular que há-de preencher o baile daquela noite.
Foi debaixo deste tecto que decorreu a ceia solene e colectiva, onde apenas participaram homens com menos de 40 anos e contribuintes da festa. Noite dentro, as portas abriram-se para toda a gente, homens ou mulheres de todas as idades, mas longe vão os tempos em que a gaita-de-foles, a caixa e o bombo marcavam os ritmos da festa. Este ano, a escolha recaiu sobre um grupo de baile do concelho de Torre de Moncorvo, o que dá conta dos sinais dos tempos…
Mas, o melhor estava guardado para o dia seguinte, altura em que teve lugar um ritual simbólico que distingue a Festa dos Rapazes de Baçal. Trata-se da apresentação dos colóquios na praça pública, manifestações populares recheadas de crítica social.
Do alto do fontanário de pedra, mesmo à entrada da aldeia, declamador e autor trazem a lume acontecimentos dignos do ridículo, não deixando de referir, claramente, o nome das pessoas intervenientes. As obras mal feitas na aldeia, as eleições e os namoricos são alguns dos temas fortes dos colóquios, que se tornam no centro das atenções de toda a freguesia.