Ordenha com falta de higiene

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Ter, 31/10/2006 - 15:35


A maioria dos locais onde é efectuada a ordenha das cabras de raça Serrana, em Trás-os-Montes, apresentam deficiências ao nível da limpeza e da higiene, o que, por vezes, põe em causa a qualidade do leite.

Dos cerca de170 criadores inscritos na Associação Nacional de Caprinicultores da Raça Serrana (ANCRAS), apenas cerca de 25 adquiriram uma plataforma para reunir as cabras enquanto lhe é retirado o leite, ao passo que três adoptaram a ordenha mecânica.
Os restantes criadores continuam a retirar o leite manualmente nas instalações onde os animais são alojados durante a noite, muitas vezes no meio do rebanho.
Armando Crestino dedica-se à criação de cabras de raça Serrana desde os 15 anos e conta que, apesar de já ter comprado uma plataforma de ordenha, a maioria dos pastores continua a fazer como antigamente.
“Ainda há muita gente a ordenhar de forma manual e de costas curvadas. Alguns não querem comprar a plataforma e outros não têm possibilidades de investir em novos equipamentos”, acrescentou este pastor da freguesia de Marmelos, no concelho de Mirandela.
Segundo o técnico da ANCRAS, Francisco Pereira, o papel da associação passa por incentivar os produtores de leite a apostarem em novas tecnologias, a melhorarem as condições dos abrigos e da forma de ordenhar, para que haja mais higiene e limpeza na recolha do leite.

Criação de uma exploração modelo depende de financiamento por parte do Ministério da Agricultura

Este processo começou há quatro anos, com a implementação de um projecto nas instalações de alguns associados, em que a ANCRAS trabalhou em parceria com a Escola Superior Agrária (ESA) de Bragança, numa iniciativa financiada pelo programa AGRO.
Tratou-se de um trabalho que envolveu acções de estudo das condições das explorações, a experimentação e demonstração dos novos equipamentos, a divulgação das técnicas, bem como a formação dos criadores.
Esta acção, contudo, precisa de ter continuação através da criação de uma exploração modelo, que tem como principal objectivo mostrar aos criadores as vantagens da adopção de novas tecnologias.
“Apresentamos uma candidatura ao programa AGRO para darmos continuidade a este processo, mas não conseguimos financiamento”, lamenta Francisco Pereira.
O responsável salienta, ainda, que quando foi implementado o projecto, em 2001, todos os criadores utilizavam o método de ordenha manual, que, para além de pôr em causa a qualidade do leite, também é prejudicial para a saúde do ordenhador, causando diversos problemas na coluna cervical.

Leite fica nas explorações quando não obedece aos parâmetros de qualidade exigidos
A ANCRAS também exerce o seu trabalho noutras regiões do País, nomeadamente na zona de Santarém e da Lourinhã, onde, segundo Francisco Pereira, os criadores têm um efectivo mais numeroso e já adoptaram equipamentos de ordenha tecnicamente mais avançados.
A utilização de métodos rudimentares também põe em causa o desenvolvimento da raça em Trás-os-Montes, dado que, quanto mais esforço físico é exigido, mais difícil é cativar os jovens a dedicarem-se a esta actividade.
“ Há criadores que compraram a plataforma para ordenhar e dizem que agora os filhos já não se importam de ajudar na ordenha”, realça o professor da ESA, José Carlos Barbosa.
Apesar das deficientes condições em que é efectuada a ordenha, o docente acrescenta, ainda, que a qualidade do leite e do queijo que chegam ao mercado estão garantidas, realçando, porém, que a transformação de leite com qualidade inferior acarreta custos mais elevados.
Francisco Pereira explica, ainda, que antes do leite ser recolhido os técnicos fazem análises rápidas que determinam a qualidade do produto. Caso não tenha a qualidade exigida o leite acaba por ficar na exploração.