Obesidade tirou-lhe a alegria de viver

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Ter, 12/04/2005 - 17:10


Maria do Amparo Andrade vive há três anos a angústia de não poder ter uma vida normal, ao mesmo tempo que espera por uma operação que lhe possa dar um dia-a-dia cheio de vitalidade.

Esta habitante da aldeia de Soutilha, no concelho de Mirandela, tem 59 anos e sofre de obesidade mórbida. Os 170 quilos, que tem de mover diariamente, impedem esta transmontana de fazer todas as tarefas domésticas. “ Não posso varrer, cozinhar, nem fazer nada, e até para me vestir ou apanhar um papel do chão tenho que pedir ajuda”, lamenta a paciente.
Desde que ficou obesa, Maria Andrade perdeu a vontade de sorrir. Mesmo quando alguém a tenta animar, não consegue corresponder, pois a sua principal preocupação são os obstáculos que tem de ultrapassar todos os dias.
“ Passo os meus dias na cama. Às vezes, para passar o tempo, vou até à porta, mas quando venho para trás já não consigo falar”, suspira a utente.

Problemas de saúde
dificultam o dia-a-dia

Os problemas de respiração, as alterações do sistema nervoso e a fragilidade dos ossos provocam a Maria Andrade uma vida de dor e sofrimento. “Tenho muitas dores no corpo todo, há dias que passo o dia inteiro na cama”, soluça.
As despesas que resultam da grande quantidade de fármacos consumidos pela senhora também são um problema para o agregado familiar. Com 190 euros de reforma, Maria do Amparo Andrade tem mesmo que fazer ginástica para conseguir fazer face às despesas mensais.
“Só em medicamentos chego a deixar na farmácia aos 200 euros, por isso o resto das despesas têm que ser suportadas com a reforma do meu marido e há meses que ainda tenho que pedir dinheiro aos meus filhos”, confessa.
Maria Andrade recorda o tempo em que tinha uma vida normal. A lida da casa e os trabalhos do campo preenchiam os dias desta transmontana que, agora, encara com mágoa “o dia-a-dia que Deus lhe deu”.
Nesta altura, a habitante de Soutilha pesava 70 quilos, mas os médicos já lhe diziam que tinha peso a mais para os problemas de saúde com que se deparava.

Medicamento pode estar
na origem da obesidade

O pesadelo começou quando foi internada no Hospital de Macedo de Cavaleiros. Devido aos problemas que debilitavam a saúde da utente, os médicos administraram-lhe “Cortizona”. Maria Andrade diz que, em conversa com outras pessoas, chegou à conclusão de que foi esta substância a responsável pelo aumento de peso.
“Quando vim do hospital as pessoas diziam-me: tu estás gorda Maria. Mas eu nunca pensei que iria ficar neste estado”, revela.
Incapacitada de trabalhar, Maria do Amparo conta, apenas, com a ajuda do marido de 80 anos, também ele com problemas de saúde.
“Quem faz alguma coisa para comer é o meu marido. A minha filha, quando pode, vem cá a casa limpar”, confessa.

Operação em privado
custa cerca de 10 mil euros

A paciente conta que a sua vida pode mudar com uma simples operação. A colocação de uma banda gástrica foi a solução que os médicos apontaram a Maria do Amparo para voltar a ter um peso normal.
No entanto, o sistema público de saúde tem listas extensas e a utente encontra-se há três anos à espera. Para recorrer a uma unidade de saúde privada, a intervenção fica em cerca de 10 mil euros, um valor que Maria do Amparo considera insuportável para os seus parcos rendimentos.
Por isso, esta vítima de obesidade mórbida faz um apelo à generosidade da comunidade para sair desta vida de angústia e sofrimento.