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Novamente o tema dos cães

Qua, 23/08/2006 - 10:19


A manchete do Jornal de Notícias do passado dia14 de Agosto, que dava conta duma criança de 18 meses ter sido, algures para lá do Marão, violenta e impiedosamente mordida por um cão de raça Pit Bull, com a vergonhosa particularidade da reincidência e do animal pertencer aos pais da vítima, leva-me a que não possa deixar de bater na mesma tecla e acossar todos aqueles que, legitimados pelo voto, e tendo obrigação de criar condições que permitam assegurar o bem – estar dos cidadãos, pouca ou nenhuma importância têm dado às múltiplas situações em que habitantes deste outrora pacato recanto ficam à mercê da imprevisibilidade canina.

Em total discordância com os procedimentos contemplados na Lei para situações desta natureza, que são precedidas de denúncia, ou que, por outra forma, as autoridades delas têm conhecimento, se eu “botasse leis”, como diria um amigo meu, a minha judiciosa sentença para este caso, que não pode deixar insensível o ser mais frio e empedernido, seria a seguinte: mandava não o animal para o canil, de quarentena, mas os pais da criança e todos quantos da família foram cúmplices. Quanto ao agressor, não lhe daria, obviamente, a oportunidade de tentar uma terceira vez.
Sem nenhuma pretensão de me substituir a qualquer teórico da psicologia canina, diria, apenas na qualidade de vulgar cidadão mais ou menos atento, mas que se consegue aperceber de como a sociedade, de forma abrupta, se transforma e evolui nos hábitos e costumes, que os “ciúmes do cão”, argumento apresentado pelo avô da pobre criança, para justificar a reacção do animal, não são mais do que os reflexos dessa mesma sociedade.
Até há pouco mais de uma década, quando ter cão não estava na moda, homem e animal conviviam pacífica e harmoniosamente, adoptando o primeiro, por princípio, a filosofia do “cão é cão” e do “cada macaco no seu galho”. A partir do momento em que se tenta humanizar o cão – ele é apaparicado com beijos, tem direito a colo, dorme no sofá (partilhando, em muitos casos, a cama com os demais elementos da família), no Inverno, veste uma roupa apropriada, para não se constipar, serve-se da casa de banho dos donos, toma banho na mesma banheira, etc., – tudo se alterou.
Esta tentativa de subversão da Natureza faz com o cão se sinta da família, conquistando o devido espaço e afecto dentro da casa; o que permite que no seu íntimo esteja presente a ideia de sentimento de pertença e de posse. Assim, nos casos em que do núcleo familiar fazem parte crianças, principalmente de colo, o cão sente-se ameaçado por causa da concorrência na partilha de afectos. Quando menos se espera, conquanto os donos asseverem religiosamente que o animal é inofensivo, este ataca como forma de reivindicar aquilo que julga ser apenas seu.
E para se perceber que esta teoria é consistente, sacrificando-nos a um simples exercício de memória, podemos constatar que o cão, quando era, numa opinião consensual (hoje não comungo dela), o mais fiel e o mais amigo do homem, ou seja, antes de ser descaninizado, ainda que, inadvertidamente, lhe pisassem o rabo, jamais mordia o dono, muito menos as crianças; aliás, ele era sempre o primeiro a defendê-las.
No contexto de rua, a generalização deste fenómeno e a displicência com que “quem de direito” tem lidado com os cães sem dono, que lhe está subjacente, têm contribuído para aumentar o número de casos de pessoas que dão entrada nas urgências do hospital de Bragança, vítimas da animalidade canina. Para que conste, na terceira semana de Julho, no mesmo dia e à mesma hora, dois munícipes receberam tratamento nesta unidade hospitalar, por esse motivo.
No entanto, não obstante os vários apelos dirigidos à edilidade brigantina, quer da minha parte, servindo-me deste espaço, quer, com bastante insistência, através do programa radiofónico Sem Papas Na Língua, transmitido às Quintas – Feiras pela Rádio Brigantia, para serem accionados, de forma implacável e firme, os meios legais que permitam conceber uma cidade limpa, harmoniosa e segura, tudo continua na mesma, como a lesma.
É evidente que é mais fácil e mais cómodo a um fiscal da Câmara – que se limita a cumprir ordens – passar uma multa a um feirante que, ganhando a vida honestamente, apenas cometendo a mesquinha” ilegalidade” de usufruir de meia dúzia de centímetros a mais daqueles que foram acordados para o espaço da tenda, do que a certos indivíduos que, pondo em risco a saúde pública e a nossa integridade física, fazem dos espaços verdes e dos passeios da cidade o WC dos seus cães.
Em meu entender, um de dois motivos pode explicar a passividade e o laxismo dos nossos responsáveis autarcas para debelar tão delicado problema, sabendo-se que os mesmos fazem das questões do ambiente e da segurança a sua principal bandeira: ou é pura demagogia, porque o discurso e as “convicções” entram em contradição; ou não dá jeito ver aquilo que para ninguém é segredo.