Qua, 31/05/2006 - 15:14
Decididamente eu não concordo com algumas propostas que têm vindo através de correntes de ar quente e se têm propagado, como deve ser o seu objectivo. Na verdade, as últimas notícias trazidas a público pela própria voz dos responsáveis da Educação, dizem-nos que os professores irão ser avaliados pelos encarregados de educação, ao longo do ano lectivo. Coisa curiosa! Numa altura em que estão ainda em cima da mesa várias opções sobre a avaliação dos professores interligadas com a progressão da Carreira Docente, aparecem agora mais opções que são, aparentemente, contraditórias, lançando uma confusão extraordinária sobre toda a comunidade escolar. Impensável!
Ninguém, além dos professores, pode avaliar cabalmente os alunos, porque são eles que os acompanham todos os dias do ano e são capazes de avaliar a sua progressão. Nem os pais conseguem ter esta maleabilidade de avaliação, como é óbvio. Assim sendo, como conseguirão os encarregados de educação, avaliar os professores que, na grande maioria dos casos, não conhecem?
Completamente irracional! Se este aberrante tipo de avaliação for avante, outras implicações gravosas irá ter certamente, a outros níveis, essencialmente psicológicos. Não só os professores passam a ter receio de como podem ser avaliados e as bases dessa avaliação, como também não sabem como reagir perante tal facto.
Por outro lado, também os encarregados de educação não sabem como vão avaliar quem não conhecem ou conhecem muito mal! Como lhes vai ser transmitido esse conhecimento?
Todos sabemos que a avaliação é efectivamente um dos aspectos mais difíceis de levar a cabo num processo avaliativo. Há alguns anos que os responsáveis pela Educação em Portugal têm vindo a equacionar modelos de avaliação, de modo a minimizar os erros que daí podem sair e também a aumentar a taxa de sucesso escolar. Até agora o que nos foi dado ver foram modelos díspares, incongruentes e confusos que parecem ter somente como objectivo a diminuição do insucesso escolar no país. Na verdade, os modelos de avaliação dos alunos, a que nos têm submetido, são tão complicados de resolver nos casos de insucesso que mais vale passar os alunos do que retê-los, perante tão complicada burocracia. Esta é que é a verdade!
Agora, passando toda esta complicação para os encarregados de educação, dos quais muitos nem sabem ler, como vão eles livrar-se de tamanha responsabilidade? E como vão os professores aguardar a avaliação do seu trabalho, nestas circunstâncias? Com que segurança podem os professores dar notas negativas aos alunos?
Todos sabemos que ninguém gosta de ter negativas na sua avaliação. Daí que os alunos não gostem igualmente de ter notas inferiores a dez ou equivalente e também não é difícil chegar à conclusão de que os encarregados de educação também não gostem. Pois é. Isto complica todo o processo de avaliação e não parece!
Na verdade, com que segurança continuarei a dar nota negativa a quem realmente a tem? Como continuarei a reter os que não conseguem ultrapassar a fasquia dos dez valores? Qual a reacção que podem ter os encarregados de educação ao saberem que eu chumbei o seu educando? Perante este facto, como vai decorrer uma avaliação de um encarregado de educação? Que sentimento prevalece? A sensatez, ou o furor perante o chumbo? O conhecimento sobre o esperado, ou a esperança do inesperado? A amizade ou o desconhecimento? E se simplesmente a
avaliação se basear num simples "Não gosto de si"?
Pois também nós não gostamos de muita coisa e temos de seguir em frente. E esta é uma delas, mas que custa a engolir, lá isso custa! Onde é que já se viu uma coisa assim?