A Menina da Lua

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Ter, 09/08/2005 - 16:51


Havia, numa aldeia,
Uma menina da rua,
Que desejava ir ao céu,
Desejava agarrar a lua.
Todos os dias, sentava-se
No meio dos campos de trigo,
Imersa no dourado,
Esperando a lua vir ter consigo.
E ficava…tempos infinitos…
Admirando a sedutora esfera
E, todas as noites, tudo se repetia
Todos os dias passavam-se naquela espera.
Um dia, ao sair da igreja,
A menina foi vista por certa comadre.
Foi daí à mulher do livreiro
Contar a novidade.
Esta contou depois à peixeira,
Que apregoou a meio mundo tonto.
E, de cada vez que a história era contada,
Acrescentava-se-lhe um ponto.
No final, já se dizia
Que a menina era uma fada,
A quem caíram as asas
Por da lua estar enamorada.
“Seus são quartos minguantes” –
Já dizia a padeira –
“Porque olha muito a lua
E dela é prisioneira.”
No penúltimo dia, espreitavam-na,
Admirados, uns putos,
Vieram a dizer que, em frente da lua,
Só se demorara cinco minutos.
Cerrou-se uma neblina,
Agarrou-se à aldeia,
E em cada casa estava,
Pendurada, uma candeia.
Viram um vulto surgir,
De entre o negrume, branco,
Era ela que estava a vir,
Vestidinha com um manto.
Parecia realmente uma fada,
Envolta em pura brancura,
E na forma como olhava
Exibia uma nua doçura.
Parecia pairar
Acima do chão
E, com a voz tímida, começou a falar:
“Olá, como estão?”
Todos estavam encantados
Pela menina que se aproximava.
Repararam, então, que estava descalça
E, obviamente, não voava.
Pegaram-na ao colo
E a sua leveza espantou-os de que maneira…
Levaram-na para dentro de uma casa
Para se aquecer na fogueira.
Seus cabelos eram negros…
Que contraste, Deus meu!
Mas que era bela,
Toda a aldeia percebeu.
A padeira, que estava ali,
Pensou logo que tivera razão:
“Olhem! Olhem-lhe prós olhos…
Os quartos minguantes ali estão!”
A noite foi animada,
Ainda se cantou muita cantiga.
A menina ria e olhava,
Sem nunca demonstrar fadiga.
Na noite seguinte, foi embora,
Viram-na subir um penedo,
Lá do alto, a lua incitava-a
A subir o íngreme rochedo.
Quando chegou ao topo
Sentiu que o vento lhe batia.
Lhe trazia um aroma fresco,
O cheiro a maresia.
Saltou muitas vezes
Tentando agarrar a lua,
Aquela que lhe sorria do alto,
Aquela que era só sua.
Num dos saltos,
Em que quase lhe chegara
E a ouvira rir
Apercebeu-se que um pé escorregara
E sentiu-se cair.
O seu corpo descia pelo ar,
Era quase levado pelo vento…
E o seu caminho para o mar,
Foi, em vez de tormento,
Um alegre contentamento.
Quando deu por si estava sentada
Num campo de margaridas.
À sua volta cresciam flores,
Todas de branco floridas.
Apareceram duas fadas,
Que lhe pegaram na mão
E quando apontaram para o espaço
Sentiu um baque no coração.
O tal campo de trigo,
Via lá no fundo,
Onde as pessoas lhe acenavam,
Alegremente, do seu mundo.
A menina estava feliz
Havia conseguido que fosse sua!...
Passou, então, a ser chamada:
A menina da lua.

Ana LúciaPires Diz