A má língua de Baçal

PUB.

Ter, 09/01/2007 - 10:08


Não há ninguém na aldeia de Baçal, no concelho de Bragança, que escape à má-língua dos rapazes. A lista é tão longa que começa a ser elaborada mal começa o ano e incluiu más acções, vaidades e procedimentos negativos, entre outros.

O importante é, no primeiro fim-de-semana de Janeiro, ter o que proferir perante os populares. A proteger, da fúria dos visados, o rapaz que lança as críticas, estão cerca de 40 caretos, munidos de paus, que gritam e aclamam cada frase pronunciada.
Este conjunto de acções insere-se na Festa dos Rapazes, uma tradição que se realiza há vários anos, pelas mãos dos jovens de Baçal, e que conta, ainda, com a colaboração da Junta de Freguesia (JFB) e com a Associação Cultural e Recreativa Abade de Baçal.
O orador sobe para a fonte central da aldeia e vai apontando todas as falhas e defeitos que os populares vão evidenciando ao longo do ano. “Há pessoas que são criticadas porque se envaidecem com algo ou têm algum defeito. Por isso, ninguém está imune”, referiu o presidente da JFB, João Francisco Alves.
Já os caretos, além de “policiarem” o declamador, “multam” todos os indivíduos que apareçam na aldeia por aqueles dias, com as suas tropelias. Após cada crítica proferida, os mascarados gritavam palavras de aprovação, sempre acompanhadas de saltos e movimentos que faziam lembrar uma dança descoordenada.

Caretos visitaram as adegas da aldeia e “tiram a chouriça” durante os três dias de folia

No sábado à noite, os caretos provaram o vinho das adegas de Baçal ou das canecas que os donos trouxeram para a rua e fizeram a ronda para “tirar a chouriça em volta”. Todos os populares são obrigados a participarem nesta iniciativa, sob pena de terem de pagar uma multa. “Vão tirar a chouriça, que é colocada nas janelas ou nas varandas da aldeia”, esclareceu o autarca.
Apesar de ser uma festa cuja origem se perde no tempo, esta tradição já esteve interrompida, devido às dificuldades que os rapazes encontravam em organizar a iniciativa anualmente. “Os jovens investem dinheiro antes de terem qualquer lucro e não são patrocinados por ninguém, apesar de terem a colaboração da Junta de Freguesia”, informou João Francisco Alves.
No entanto, o evento foi retomado há cerca de 20 anos, graças “à força de vontade e ao valor que se voltou a dar a tudo que se perde”, relembrou o autarca.
No Carnaval, apesar de não estarem sujeito a qualquer tipo de organização ou regras, os caretos de Baçal voltam a sair às ruas.