Livros e livrarias

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Qua, 27/04/2005 - 17:00


A minha paixão pelos livros é de sempre. Em Bragança comecei a amealhar moedas para os comprar a crédito na Papelaria Cristal.

Eternamente reconhecido ao Nuno Álvaro Vaz e aos falecidos Senhores Pereira e António Reis. Nos anos sessenta o burgo bragançano tinha umas quatro livrarias-papelarias, sendo a do Sr. Mário Péricles a mais abastecida. Na adolescência passava horas a mirar os livros expostos nas montras daquela livraria e as meninas estacionadas nas janelas e sacada do Lar da Mocidade. Agora, lastimam os meus conterrâneos a não existência de uma livraria a sério na velha cidade e, nas páginas deste jornal se tem feito eco dessa tremenda falta ou falha. Não é esta a crónica destinada a tecer considerações sobre os não hábitos de leitura da maioria da população portuguesa, muito menos sobre a “construção” de livrarias, apesar de ser autor de alguns projectos nesta área. Das livrarias falarei em devido tempo, desta feita prefiro lembrar os nossos melhores amigos, que são os livros e, devido a uma singularidade as edições da ou patrocinadas pela Fundação Calouste Gulbenkian. Alguns leitores não desconhecem a minha profunda ligação à benemérita Instituição, a pontos de a todo o tempo e todo o transe, a procurar enaltecer a todo o custo e, com todo o tipo de custos. A gratidão é um sentimento pouco em uso, daí ser minha obrigação nunca me esquecer de lhe ser grato. Por tudo. A singularidade é ter saído dos prelos há escasso tempo um livro debaixo da chancela da Fundação Gulbenkian e da Fundação para a Ciência e Tecnologia, intitulado:” Inácio de Morais – percurso biográfico e literário de um humanista de quinhentos”, da autoria de Aires Pereira do Couto. O leitor perguntará: onde reside a singularidade? Respondo alegremente: reside na evidência deste este Inácio de Morais ser dado como natural de Mogadouro, sendo:” meyo irmão de Nuno Álvares Pereira que era de Bargança (sic), onde tinha humas cazas mtº nobres, logo fora da cidade, que ficarão de seus avós, e seu pay foy hum homem fidalgo, por nome Pedralvares Pereira…” Este “filho da Universidade de Paris” e lente da Universidade de Coimbra, é natural de Bragança, como o atesta Barbosa Machado na Biblioteca Lusitana, estando confirmado o seu nascimento em Bragança, pelos registos da Faculdade de Direito, existentes no Arquivo da Universidade de Coimbra, embora J. Franco Barreto o dê como nascido na mesma terra onde nasceu Trindade Coelho. Só pelo acima referido é minha convicção já ter suscitado o interesse de muitos dos milhares de alunos e das centenas de professores do Instituto Politécnico e das Escolas Secundárias, por esta obra determinada em dar a conhecer um humanista de grande relevo. Ora, importa salientar o facto de a Fundação Calouste Gulbenkian de a ter colocado ao nosso alcance, a exemplo de centenas e centenas de títulos em todas as áreas do conhecimento, a preços muito acessíveis. Os estudantes beneficiam de um substancial desconto. Em tempo de globalização lembro a obra de Manuel Castells, “A Sociedade em Rede”, aos investigadores dos patrimónios imateriais, recordo o: Romanceiro Português da Tradição Oral Moderna”. Nesta magnifica obra, que já vai no quarto volume, abundam referências ao Nordeste Transmontano. No capítulo – Romances Vários - lá temos a conhecida canção “Eu casei com uma donzela”, nas versões de: Rebordainhos, Babe e Palácios, Carragosa, Carviçais, Argozelo, Mofreita, Rio de Fornos e Vinhais. Os interessados dirão: se em Bragança não há livrarias, como podemos comprar essas e outras obras de inegável interesse a todos os títulos? Quem tem boca vai a Roma, dizia o outro. Quem tem Internet pede através do correio electrónico: “vendas@gulbenkian.pt.” Os outros façam-no através de carta. Não deixem é de ler. Se consultarem o catálogo em causa a surpresa dos leitores será enorme. Não se esqueçam: os livros são os nossos melhores amigos, nunca nos atraiçoam, não são desleais, não pedem dinheiro emprestado, ajudam-nos, ensinam-nos e fazem-nos mais felizes. Mesmo ao Fidalgo Engenhoso!