Ter, 05/09/2006 - 16:05
Na fachada do edifício (exemplarmente recuperado, diga-se) existe uma lápide em homenagem ao empresário João da Cruz, que dizimou grande parte da sua fortuna para que a Linha do Tua não terminasse em Mirandela e chegasse a Bragança. Há, até, quem diga que o empreiteiro morreu na pobreza por se ter envolvido em tamanho projecto com uma vontade verdadeiramente férrea.
Ao cimo da avenida há, também, um busto em memória do conselheiro Abílio Beça, que enquanto deputado por Bragança não descansou até que o comboio apitasse na capital do Nordeste Transmontano. E assim foi. Em 1906 a locomotiva a vapor entrava na estação bragançana, para nunca mais circular desde 1992 até aos dias de hoje.
Se Abílio Beça e João da Cruz voltassem à vida terrena não aceitariam esta falta de respeito pela luta que empreenderam para tentar colocar Bragança em pé de igualdade com outras cidades do País. Diga-se que nunca o conseguiram. Os comboios que circulavam em Bragança eram de segunda ou terceira categoria, adaptados à chamada via estreita ou bitola métrica, sistema que permitiu reduzir custos na conclusão da rede ferroviária nacional, já no século XX.
Passaram 100 anos e continuam a querer dotar Bragança com infra-estruturas parecidas com a tal linha estreita. Até à fronteira do Portelo a nova ligação far-se-á a partir da requalificação da estrada nacional que dá acesso a Rio de Onor, enquanto o prolongamento da A4 será feito através da duplicação do IP4, que terá de ser corrigido quanto baste. Pelo menos não haverá portagens entre Vila Real e Quintanilha, decisão que discrimina positivamente a região.
Mas, voltando ao respeito pelo passado, o que dizer de um País que vota ao abandono centenas de casas florestais. Só em Trás-os-Montes são mais de 30 as que continuam à espera de melhores dias. Os guardas florestais moraram ali anos a fio, mas esse passado foi, pura e simplesmente, esquecido.