Ter, 21/02/2006 - 15:31
E perante este novo e estonteante dado assim lançado, o bom brigantino só não duvida da notícia porque conhece os méritos da imprensa regional e porque – não esqueçamos que há um S. Tomé dentro de cada um de nós – os jornais do concelho escarrapacharam nas suas páginas insuspeitas fotografias, onde eles – os doze! – lá estavam lado a lado. Ombreando no desconforto de se acharem ali todos juntos, numa tentativa pouco convicta de recriarem uma nova versão dos velhos mosqueteiros, à procura da actualização do estafado mas impraticado lema “um por todos, todos por um”.
Mas é verdade que os tempos mudam. E, com eles, as agendas políticas, as pessoais e as outras vão, também, virando as suas páginas e rescrevendo novas prioridades. O móbil dessa histórica reunião (de absoluta originalidade), realizada em Bragança, no passado dia 30 de Janeiro, terá sido a perspectivação de uma posição geral e consensual (outra originalidade!) dos doze autarcas do distrito sobre a iminente reorganização dos serviços regionais do Ministério da Agricultura em Trás-os-Montes e Alto Douro. É que, extinguindo-se as duas direcções regionais de agricultura da região Norte e criando-se um novo organismo que abarque essa mesma área, os presidentes de câmara propõem que esses serviços se sediem em Mirandela, atendendo à observável circunstância de que a região de Trás-os-Montes e Alto Douro ocupa um espaço que abarca 60 por cento do Norte de Portugal e ao facto de que o município mirandelense constitui uma forma de núcleo central dessa zona. Além disso – e sobretudo! – é nessa mesma área de Trás-os-Montes e Alto Douro que se concentram as explorações agrícolas que seria necessário desenvolver e que estariam, evidentemente, relacionadas com os serviços do Ministério da agricultura.
Pois claro! Resta é saber se os planos do governo se baseiam em prerrogativas de carácter geográfico e funcional ou se, por outro lado, assentam em prioridades que mais rapidamente valorizam a densidade populacional das áreas territoriais e a consequente centralização de serviços nas zonas litorais.
Independentemente do resultado imediato que o documento assinado pelos doze autarcas e enviado ao Primeiro-ministro possa vir a ter, esta atitude dos doze presidentes de câmara constitui um sinal de que é possível repensar-se este distrito e esta região para lá das invejices e quezílias típicas de quem tem a cabeça colada ao próprio umbigo, com a consequente ausência de perspectiva.
Façamos figas. Porque os presidentes de câmara do distrito parecem ter finalmente percebido – ou querido dar a perceber – que os autarcas que não consigam olhar para lá da medidas que enformam o seu bairro e não sejam capazes de equacionar soluções de complementaridade com os concelhos vizinhos, estão a provar que confundem o seu próprio egocentrismo com os interesses do município que os elegeu.
Ainda é cedo, porém, para manifestar um eufórico alvoroço sobre a união que a reunião dos autarcas do distrito possa sugerir. É que um olhar mais atento sobre as fotografias de “família” deixa perceber que nem todos os presidentes de câmara estavam presentes. Um dos ausentes foi o recém-estreado autarca de Vinhais que se fez substituir pelo seu vice, impingindo-lhe a seca de aturar os rivais de além. Digo eu. É que, a julgar pelas palavras que o Presidente da Câmara de Vinhais, Américo Pereira, deixou ao Jornal Nordeste, em 22 de Março de 2005, quando apresentou formalmente a sua candidatura, não sei até que ponto é que o distrito de Bragança poderá contar, de agora em diante, com a cooperação desse concelho para o futuro colectivo da região. Num tom ao melhor estilo do orgulhosamente sós de antanho, o actual autarca de Vinhais deixou reluzir a sua perspectiva de presidente de quintarola: ”Hoje há uma grande competição entre concelhos. Cada um luta por ter melhores condições que o concelho vizinho. Não nos podemos deixar ultrapassar”.
Estas esclarecedoras palavras mostram, de forma eloquente, a dupla tacanhez do Presidente da Câmara de Vinhais: pela sua ausência de perspectiva colectiva e pela convicção de que todos pensarão tão redutoramente como ele.
Há autarcas que não percebem que o seu prazo de validade é menor do que o das estratégias de desenvolvimento da região por cujo futuro seria suposto que ajudassem a velar. Que as rivalidades entre municípios dificultem as associações de concelhos e a consecução de objectivos que deveriam ser comuns só atesta a ligeireza com que alguns eleitos pelo povo encaram questões estruturais que podem hipotecar as condições de acesso ao desenvolvimento da região.