Janeiras em terras de Miranda

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Ter, 10/01/2006 - 15:06


Na maioria das terras transmontanas, os Cantares de Reis ou as Janeiras ainda estão enraizados na cultura popular, pelo que são vividos com intensidade pela população durante a quadra natalícia.

As terras de Miranda não fogem à tradição e reuniram grupos de cantares portugueses e espanhóis para festejar este ritual no II Encontro de Cantares dos Reis, que decorreu no passado sábado. Este encontro popular foi marcado pelo lançamento do CD de música tradicional intitulado “Por un Dius que mos criou”, da editora Sons da Terra.
Os Cantares de Reis, apesar de serem atacados, ao longo dos tempos, pelas autoridades eclesiásticas, conseguiram sobreviver à evolução das mentalidades e da própria religião.
Segundo director do centro de música tradicional “Sons da Terra”, Mário Correia, “os costumes de cantar os Reis eram considerados pagãos, pelo que deveriam ser abolidos do quotidiano das pessoas, já que eram práticas pré-cristãs e estavam associadas ao pedido de esmolas”.

Rimas de mal dizer
marcam os cânticos

No passado, houve mesmo clérigos que associaram o cantar das Janeiras e “as festas das Calendas”, que, na região Norte do País, estavam ligadas às cantigas de escárnio e mal dizer. “ Os moradores que não partilhassem com os cantadores peças de fumeiro ou outros alimentos eram contemplados com rimas de mal dizer, uma vez que os versos dos cantares sofrem alterações em função do “prémio” dado aos cantadores,” explica Mário Correia.
Apesar das várias tentativas de acabar com a prática dos Cantares de Reis e das Janeiras, em grande parte das aldeias transmontanas existem associações, autarquias ou pessoas singulares que se reúnem para levar as Boas Festas aos vizinhos e amigos.
As noites frias de Inverno dão, ainda, lugar a serões animados, já que os grupos percorrem todas as ruas das localidades, para no final dos cantares se reunirem à volta da lareira e petiscarem algumas iguarias tradicionais.
Nestes dias de festa são utilizadas rimas feitas em redondilha maior, acompanhadas pelos mais rudimentares instrumentos musicais, desde os testos das panelas, aos garfos enfiados em garrafas, ferrinhos, gaita-de-foles e violas.
A tradição vai, assim, passando de geração em geração.