IPPAR (Instituto Português do Património Arquitéctónico) e Bragança

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Ter, 26/09/2006 - 16:40


Cabe ao IPAR a missão de conservar, preservar, salvaguardar e valorizar o património arquitectónico português.

Como missão não é coisa de somenos. Longe disso. Portugal é um país rico em património arquitectónico, de Norte a Sul, algum bem conservado, preservado, salvaguardado e valorizado. Outro, nem por isso.
Ao lado dos bons exemplos, podemos apresentar muitos outros maus ou assim-assim. A nossa Domus Municipalis, tão abandonada à sua sorte que acaba por ser um acaso ainda existir em toda a sua originalidade.
De quem é a responsabilidade? Da Câmara Municipal, do IPAR, da Região de Turismo, da Direcção Geral dos Edifícios e Monumentos Nacionais?
Talvez a culpa seja um pouco de todos nós que não sabemos dar o devido valor àquilo que temos, não sabemos dar valor à nossa história e aos nossos antepassados.
Há exemplos caricatos como o do relógio da Sé de Miranda do Douro que depois de dois anos de infrutífera espera para o seu arranjo por técnicos do IPAR, acabou por ser composto, e bem, por uma pessoa da terra. Outros casos há, com certeza, por este país fora.
Há inúmeros, belíssimos solares de família (veja-se Ponte de Lima, o solar de Morais, concelho de Macedo de Cavaleiros, e tantos outros) quase completamente destruídos, a quem ninguém deita a mão e que se transformam em montes deprimentes de pedras e sonhos desfeitos.
Outro exemplo flagrante de abandono é o mosteiro de Castro de Avelãs, em Bragança, que tão deprimente se torna e que nos devia envergonhar. Já só restam vestígios da casa do padre e de toda a propriedade circundante. Se houvesse verdadeira vontade de conservar, preservar, salvaguardar e valorizar aquele espaço, as coisas não teriam chegado à actual situação.
É necessário trabalhar para que estas situações se resolvam. Sempre que as famílias (no caso dos solares e as instituições responsáveis nos outros casos), seja porque motivo for, abdiquem da sua preservação, cabe aos organismos responsáveis pelo património, pugnar para a solução do problema, assumindo, se for caso disso, a compra e restauro do imóvel, sempre que a sua importância seja efectiva.
Assim, cresce a importância da problemática do uso dos bens patrimoniais, evitando o seu colapso e orientando-os numa estratégia de um novo comportamento das comunidades usufrutuárias dessa herança, enquanto que o património arquitectónico se identifica primordialmente com as pessoas para, de seguida, se conformar com o valor do monumento que há que preservar.
Intervir em património construído equivale, a chegar a um consenso quanto ao melhor uso a dar-lhe, de acordo com as suas características e história.
Não basta instalarmos museus em edifícios classificados e restaurados. É também, absolutamente necessário dar formação a todos os funcionários, muito além dos meros conhecimentos de algibeira a que todos estamos mais ou menos habituados e que pouco mais ou menos conhecemos. É necessário saber receber os turistas estrangeiros e para isso alguma fluência no inglês é fundamental.
Temos castelos para todos os gostos e de todos os “feitios” mas é necessário fazer mais para que se possa tirar o melhor partido de todos eles. Os centros históricos devem ser atractivos e não apenas fiéis depositários de uma história longínqua. Devem ter vida.
Não obstante, havemos de convir que quer seja um imóvel, um jardim ou uma cidade devem ser vivos e vividos, habitados. O campo do património é não só vasto como dinâmico, não sendo vantajosa a exclusividade dos valores culturais edificados no campo limitado de um entendimento apenas documental. Os monumentos são muito mais do que apenas história.
São passado, são presente, serão futuro e principalmente o elo que faz de nós o que somos, com tudo os que os nossos antepassados nos legaram e com aquilo que legaremos aos nossos filhos. O património arquitectónico é uma das características mais marcantes de um país. O que seria de Paris sem a Torre Eiffel, de Veneza sem a Praça de São Marcos, do Vaticano sem a Basílica de São Pedro, de Lisboa sem a Torre de Belém, de Bragança sem o seu Castelo e a sua Domus?

Marcolino Cepeda