Interior do Interior

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Qua, 06/04/2005 - 14:51


O novo Governo começa esta Legislatura com um dado seguríssimo em termos de acessibilidades. Bragança é o distrito do País mais atrasado em termos de infra-estruturas rodoviárias e qualquer região do interior deu um salto nesta matéria nos últimos anos.

O IP3 com quatro faixas de rodagem já é uma realidade entre Vila Real e Castro Daire e avança a passo largos para Chaves e fronteira de Vila Verde da Raia. O IP5 está a ser duplicado entre Aveiro, Viseu e Vilar Formoso, ao passo que na cidade da Guarda tem início a A23 em direcção a Lisboa. O Algarve está servido com auto-estrada e Via do Infante e, no grosso do território alentejano, o que não é auto-estrada Lisboa-Badajoz, é auto-estrada Lisboa-Faro, troços do IP2 ou outras estradas com o mínimo de dignidade (à excepção da mal fadada EN 122 entre Castro Marim e Mértola).
Nós por cá continuamos a enfrentar um verdadeiro dilema sempre que o destino é Lisboa. Ir pelo IP4 até ao Porto, apanhando aí a A1, significa atravessar o Marão e pagar uma boa maquia de portagens. Em circunstâncias normais, o ideal seria rumar logo para Sul, em direcção à Guarda, mas as curvas da Vilariça e do Pocinho a Foz Côa dão vontade de alterar o itinerário. De Foz Côa a Celorico da Beira é outro tormento que só termina no IP5, já com os olhos postos na A23.
Ao chegar a esta auto-estrada, começa-se a pensar na vontade política que houve para desencravar cidades com a Guarda, Covilhã e Castelo Branco. Estão a dois passos da capital e, para lá chegar, as populações só precisam de desembolsar cinco euros pela circulação na A1, entre Torres Novas e Alverca.
Tanta desigualdade leva a crer que Portugal está em vias de ter dois tipos de Interior, com as auto-estradas a vincar as respectivas diferenças. Ou seja, se o problema das acessibilidades ao distrito de Bragança não for resolvido, esta região transformar-se-á no interior do Interior. A situação atingiu um tal ponto que não é possível dissociar a auto-estrada até Quintanilha, do IP2 e do IC5, para que as tais categorias de Interior não se verifiquem dentro do próprio distrito.