Ter, 23/01/2007 - 16:42
A nossa pequenez é muito limitadora de uma intervenção mais efectiva. No entanto, faz-nos bem ao ego saber que os vestígios da nossa actuação, da nossa história, ainda são visíveis e palpáveis.
Num tempo de grandes incertezas económicas, sociais e morais, pode parecer difícil sugerirmos que se invista em manter, conservar e avivar a herança única dos Descobrimentos, mas isso é fundamental e a visita do Presidente português é um passo importante.
A ida à Índia enquadra-se ou deve obrigatoriamente enquadrar-se na perspectiva de testemunhar o esforço de desenvolvimento desta enorme nação, do qual podemos e devemos aprender algo e contribuir para valorizar e estimular as relações entre estes dois países soberanos, ligados por laços históricos.
O intercâmbio comercial desenvolvido depois da chegada do nosso Vasco da Gama às terras indianas esvaiu-se por uma série de razões de todos nós conhecidas. Cabe-nos agora trabalhar no sentido de o reavivarmos e de aprendermos com eles já que o seu progresso económico é um dos fenómenos mais marcantes da actualidade.
Poderão dizer que apesar de tudo ainda há muita pobreza e muitos milhões de pobres neste enorme país, no entanto já retirou milhões de pessoas da pobreza e aposta na área tecnológica e na formação dos recursos humanos. A Índia é a quarta economia do mundo em termos de Produto Interno Bruto e é provável que durante este ano passe a ser a terceira.
Podemos aprender muito com eles. Nos últimos dez anos cresceu uma média de 7% ao ano contribuindo, decisivamente, para o crescimento da economia mundial.
Voltando ao nosso Presidente, é de referir que foi o primeiro estrangeiro a receber um doutoramento “honoris causa” na Universidade de Goa.
Em Goa, Damão e Diu ainda se vibra com o futebol português. Comemoram-se as nossas vitórias e os nossos melhores jogadores são conhecidos pelo nome.
Celebraram-se acordos comerciais o que é muito benéfico para Portugal. A importância do nosso investimento na Índia e na China é fulcral para o nosso crescimento económico. Cada vez mais, temos de nos convencer que o nosso “quintal” não é suficiente para o nosso crescimento. É necessário reactivar o empreendedorismo do tempo dos Descobrimentos Portugueses. Somos bons trabalhadores mas isso não chega. Cabe ao nosso governo contribuir para a segurança dos portugueses que querem dar o salto para outras paragens.
Desburocratizar é urgente e necessário. Isso aplica-se dentro e fora do país. Devemos aprender com o exemplo de outros, a começar pela vizinha Espanha. Em Lisboa, os nossos governantes levam meses para resolver qualquer pequeno problema, juntando-lhe uma montanha de papéis. Na Galiza por exemplo, resolvem-se as coisas numa escassa semana. A regionalização é fundamental e Portugal caminha no sentido do centralismo puro. Nada acontece por acaso. Tudo depende do esforço de cada um e da vontade de todos. Não somos menos nem mais, somos e devemos ser iguais.
Não sei que tipo de actuação cultural Portugal desenvolve na Índia, particularmente nas cidades que nos pertenceram, mas era de toda a conveniência que se fizesse mais. Sugiro, por exemplo, a criação de um colégio português a instalar em Goa que ensinasse e defendesse a nossa língua e a nossa cultura, já que ainda existem alguns interessados e antes que seja tarde e se perca toda a nossa herança.
Esta foi, em tempos de Portugal Democrático, a segunda visita de um presidente português àquele país, recordemos a ida de Mário Soares, mas nada está feito ainda. É mais do que tempo de fazer.
Marcolino Cepeda