A imagem do outro

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Ter, 14/02/2006 - 16:45


Há alguns dias apenas, surgiu na imprensa dinamarquesa, um cartoon que representava Maomet com uma bomba na cabeça, a par de outras caricaturas semelhantes. Passados poucos dias, mais jornais apareceram divulgando a mesma notícia e as mesmas imagens.

Pois bem, não tardou que um punhado de muçulmanos, fizesse jus ao seu poder de movimentação e persuasão para que logo, em todo o mundo, se revoltassem as mentalidades de todos os árabes e também dos que não são árabes, numa manifestação de solidariedade em prol de qualquer coisa como… a defesa do profeta! Será?
Todos viram as imagens dos cartoons e todos viram as imagens de revolta dos árabes. Pois não têm comparação alguma. Não se pode comparar o cartoon com a tentativa de incêndio da embaixada de França em Teerão!
Na verdade, resta saber até que ponto é que os árabes, conseguem compreender o significado de tal acto. O objectivo, parece ter sido, à partida, identificar os árabes como terroristas e bombistas. Ora nada melhor que identificar os árabes com o seu líder espiritual e assim abranger toda a comunidade muçulmana. Só que não é verdade que seja toda a comunidade muçulmana, a principal bombista e terrorista ou que saiam daí todos os terroristas. Isto, eles compreenderam perfeitamente e fizeram questão de que todos percebessem isso. Mas o alcance que a intenção primeira teria, não foi identificada.
Agora pomo-nos todos a tentar adivinhar o que pretendiam os dinamarqueses ou os holandeses ao publicarem as tais caricaturas. Seria mesmo e só, culpar os árabes como os principais terroristas? Uma coisa é certa: Maomet é que não poderia ser o bombista de serviço!
Lançada a polémica, era só esperar a resposta dos governos a tão estranho facto.
Portugal, um pouco a medo e outro enfrentando Maomet, lá se foi pronunciando sobre os factos. E se alguns supostos entendidos quiseram justificar a sua escolha como interpelados, outros tal não fizeram como foi o caso do nosso Presidente da República que em pleno acto de empossar Aga Kan como Doutor Honoris Causa, teve de dar a sua opinião sobre a matéria.
Não sei se isso lhe ficou bem ou mal e também não sei se o acto da concessão de Doutor Honoris Causa, foi ou não premeditado, mas se foi, esteve muito mal e se não foi, esteve mal igualmente ao misturar as coisas. Mas nós já vamos estando habituados a tais coisas!
O facto é que até hoje a religião tem servido para muitas coisas e algumas delas impensáveis. O homem tem de se questionar primeiramente se o facto de usar a religião para determinada coisa, como objecto, não estará a ofender a comunidade religiosa ou a usá-la para transmitir interesses de outros incriminando assim, outros que nada têm a ver com a questão. A religião serve a quem servir e a quem dela faz uso, numa atitude de elevação espiritual e de comunhão com uma entidade superiora. A religião ou o seu representante, não podem servir para serem veios de transmissão de mensagens indecorosas ou menos sérias e que nada têm a ver com a própria religião. Não admira pois, que algumas pessoas tenham ficado indignadas com as imagens do Maomet! Agora daí a procederem como já vimos, é que não os dignifica e os torna verdadeiros culpados dos atentados que temos presenciado um pouco por todo o lado.
Todos se lembram da célebre imagem do Papa João Paulo II com um preservativo no nariz! Pois bem, pretendeu-se com isso levar a mensagem do próprio Papa, a todos os que se interessaram, de que era necessário alertar a comunidade para o perigo real da Sida ao mesmo tempo que a igreja aprovava tal atitude para esse objectivo. A mensagem era fantástica. O modo como foi feita a transmissão, não. Na altura isso foi criticado, mas não se viram os católicos a fazerem manifestações contra o Papa ou contra quem quer que fosse. E quantas vezes tem servido a imagem de Deus para explicar outras coisas por esse mundo fora?! E se não houve manifestações contra, isso só demonstra o elevado grau de civismo que os católicos têm e a facilidade de entendimento das mensagens que por aí passam. Isto leva à conclusão de que os outros são menos tolerantes e menos inteligentes. Ou, se calhar, condicionam propositadamente as suas atitudes para se aproveitarem delas, intencionalmente, para outros fins.
Seja como for e goste-se ou não, o certo é que os árabes são os principais motores de desestabilização e de terrorismo mundial e se alguma coisa lhes pode valer que seja o seu Maomet ou Alá ou o que quer que seja, que os homens conscientes nada podem fazer a não ser enviar mensagens através do seu líder. Afinal, líder sempre é líder!