Histeria televisiva

PUB.

Ter, 19/09/2006 - 16:46


Sempre que as câmaras televisivas acompanham uma manifestação, os ânimos exaltam-se mais do que é habitual ou desejável.

O protesto contra o encerramento da escola do 1º Ciclo de Lagoaça (Freixo de Espada à Cinta) é o exemplo acabado desta espécie de histeria que toma conta das pessoas, sempre que surgem equipas das estações de televisão. Faz hoje uma semana que pais e encarregados de educação gritavam alto e bom som que não deixariam as crianças frequentarem as aulas em Freixo de Espada à Cinta. “Daqui não saem para lado nenhum”, garantiam, em tom agressivo, às câmaras televisivas.
Na passada sexta-feira, mais calmos, alguns dos manifestantes visitaram a Escola EB 2,3 de Freixo e concluíram que, afinal, o estabelecimento reúne condições para receber as crianças daquela aldeia.
Mas, a imagem que passou para o exterior foi a de mães e pais de cabeça perdida, a comprometerem a educação dos filhos. “Se não abrirem a escola daqui [Lagoaça] as crianças não vão às aulas em Freixo, nem que seja o ano todo”, disseram vários populares aos jornais, rádios e televisões que cobriram a acção de protesto.
Afinal tudo não passou de exagero, para bem dos alunos que não podem ser privados das aulas. Então, o que levou a população a proferir tais afirmações? A resposta é fácil e assenta que nem uma luva a outras tantas “manifs” do género que têm atravessado o País de norte a sul. Ou seja, há manifestações que só têm gente quando começam a chegar os profissionais da comunicação social, em especial das estações televisivas.
Quem está no meio sabe, até, que há faixas e cartazes que só são empunhados pelos “manifestantes” enquanto os “media” estão no terreno. Não se condena esta forma de transmitir a mensagem, o que se condena são os exageros e os tons de revolta encenados. Isto para não falar dos directos televisivos em que manifestantes aparecem por detrás dos repórteres, de cara alegre, a fazer ou receber chamadas via telemóvel. “Estás-me a ver na televisão?”, perguntam. O dia está ganho, mesmo que a escola continue fechada.