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Guardiães do Nordeste

Ter, 05/12/2006 - 16:46


Tino e Rui Santos são os decanos dos guarda-redes no activo do Campeonato Distrital de Futebol de Bragança. No total somam 84 anos, mas as bolas que entram são poucas – Tino tem 10 golos sofridos e Rui Santos 11. O segredo para “durar” é a forma como encaram o futebol.

Rui Santos, 40 anos, e Tino Sá, 44 anos, são guarda-redes de futebol há mais de vinte anos. O futebol juntou-os muitas vezes, quer como rivais quer como colegas de equipa e, quando disputavam ao máximo o posto de goleiro, a amizade sempre reinou entre estes dois exemplos de vida. Hoje, lisonjeiam-se mutuamente, pois o sucesso esteve, em grande parte, no trabalho em conjunto pelas equipas por onde passaram.
Tino (nome de guerra - o Velho) tem como maior ambição, no adeus ao futebol, o regresso do seu fraterno Mirandês ao Nacional da 3.ª Divisão, pois foi com este clube que se estreou como sénior na 3.ª Divisão. Já Rui deseja ser o Pezão de sempre, que possa ser um exemplo para os jovens e, claro, que o seu Águias de Vimioso tenha muito êxito.
Os guardiães de estórias de futebol relembraram, nostalgicamente, dois episódios. Rui Santos, (nickname - o Pezão), descreve, como se fosse hoje, uma aventura em Palaçoulo: “Quando fomos campeões distritais em juniores pelo G.D. Bragança, em Urros (Mogadouro), vimos um barbeiro em Palaçoulo e, na adrenalina do feito, rapámos todos o cabelo”, contou o guarda-redes. Por seu turno, Tino avivou uma memória recente, enquanto treinador / jogador: “No banco via a vitória muito próxima e, para queimar os últimos cartuchos, decidi fazer a última substituição. Ainda pouco esclarecido sobre quem ia sair, apenas oiço uma voz na lateral: - Mister! Quem sai? -Sais tu porque és o que estás mais próximo do balneário!, respondi.
Depois, no balneário, foi uma risada. Quanto não vale estar calado no futebol!”, contou o mister.
Para este mirandês mirandense, o grande momento da carreira foi o jogo com o Benfica para a Taça de Portugal, com apenas 18 anos. Por seu turno, Pezão recorda a subida pelo Macedo em Amares, atendendo ao muito público macedense que se deslocou ao Minho para fazer a festa da subida. Mas, não descarta os primeiros 50 escudos que recebeu nos juvenis do GDB pela vitória ao congénere Macedo e um confronto com o todo poderoso Barcelona, quando estava nas camadas jovens Boavisteiras.
Mas o percurso não se fez só de bons momentos. Rui Santos vive, ainda hoje, o pesadelo do último verdadeiro jogo oficial, em 90, no campo do Infesta. “O nosso massagista, o Ventura, entrou em campo umas dez vezes para eu ser assistido. Contudo, venci as dores e fui eleito o melhor em campo”, recordou o jogador do Vimioso.
Tino considera o pior momento a grave lesão que o levou a ser operado duas vezes de urgência na parte facial e o grande período de recuperação que o afastou muito tempo dos relvados.
“Velho” não afasta a sua paixão pelo Mirandês, mas o clube que lhe deu mais gozo, paixão e vaidade foi o Grupo Desportivo de Bragança (G D B), onde passou sete anos de ribalta e alegria. Já o guardião mais novo destaca o Boavista e o G D B, pois foram o trampolim para deixar o anonimato e demonstrar as suas capacidades em grande escala.
Quanto a segredos para esta vida preenchida de exemplos futebolísticos, passam por ter uma vida ajustada ao desporto, neutralizando muitos vícios e, sempre, com a muleta familiar.
No total, são oitenta e quatro anos, muitos deles destinados à bola, mas poderão vir a ser muitos mais, pois a vontade de continuarem mantém-se. Com auto-críticas destemidas, ambos juram, que quando estiveram mal, são os primeiros a desistir e dar lugar aos jovens. Rui Santos até já compilou um manual de exercícios para esta posição, pois o seu sonho é montar uma escola de guarda-redes.
Em suma, os dois atletas enfrentam um campeonato dos mais difíceis de sempre, mas quem os vê em campo depara-se com exemplos a seguir pelos mais jovens.