Ter, 03/10/2006 - 17:42
O presidente, Rui Costa ou Costinha, como é tratado dentro de campo ou como capitão de equipa, é um jovem sereno, ambicioso e psicólogo, de formação, que deu continuidade ao trabalho do possível presidente honorário, Rui Santos. O seu estilo empresarial coloca em cada elemento do clube objectivos e tarefas para que todos possam avaliar o seu desempenho pessoal.
A sua imortalidade no clube passará por não desprezar as origens do Macedense, uma colectividade criada por funcionários camarários que visavam um encontro com a sua paixão pelo Futsal. Rui Santos, fundador e ex- presidente do clube durante onze anos, dava, então, os primeiros toques numa bola tão dissemelhante à do Futebol. Por essa altura, o Futsal redigia os trechos primários de afirmação nacional. O GDM deixou voar o seu pioneirismo nesta modalidade de uma maneira realista, verosímil, não tendo constrangimento ao ficar nove anos num resguardo, algures por detrás dos montes. Eis, que hoje se consolida na 2ª divisão, com uma cultura nordestina que identifica os jogadores com a terra e a terra com os jogadores. A formação juvenil é toda a estrutura narrativa duma aventura na Fouce, pois daí surge a anagnorise (reconhecimento) de toda uma cultura transmontana.
Um padre treinador às direitas
O visionarismo de Costinha trouxe para o espaço técnico do Grupo Desportivo Macedense o padre António Aires, transmitindo o clérigo, logo num primeiro contacto com as pessoas, uma consciência de paz, tranquilidade, sabedoria e, sobretudo, uma profunda comunhão entre as gentes de Macedo e o desporto.
A autocaracterização do padre e treinador Aires espelha uma pessoa divertida e que sabe lidar com qualquer ser humano: “tenho trinta e seis anos, sou solteiro e bom rapaz e não falo mal de mim a ninguém”. Pelo que deixa transparecer, parece ser daqueles raros padres que enchem todos os dias as igrejas das paróquias. Arguto, eloquente, bem disposto, jovem e enérgico, António Aires, a personagem principal, conquista em pouco tempo toda a comunidade macedense. Sentimento não premeditado por ele, mas sim pelo seu próprio talhe.
É, sem hesitação, um enamorado pela bola, desde os tempos do desporto no seminário. Só essa chama o leva a realizar 150 quilómetros diários entre a sua principal vocação e o gosto, engenho e a arte do futsal.
Será o futsal e o sacerdócio incompatíveis? “Não (responde categoricamente António Aires). Sou um ser humano normal, que tem a sua profissão e os seus gostos pessoais”. Ora, significa, isto, que quando inicia o trabalho como treinador, o padre fica lá fora. “Não quero que os meus jogadores estejam a rezar o terço, quero é que coloquem as bolas lá dentro e não deixem marcar na nossa baliza. Enquanto for treinador, não quero anjinhos dentro de campo, mas sim pessoas honestas e capazes de lutar pelos objectivos do clube”, asseriu António Aires.
Treinador exige entrega total dos atletas
Uma coisa é certa, o grupo de trabalho está unido, concentrado, disciplinado e sobretudo feliz. Concerteza que não é nenhum milagre do Padre Aires, mas sim uma conduta humana maior do que qualquer valor cristão que guia os atletas do Macedense. Agora, e sempre, estes valores humanos são a primazia do treinador.
Confrontado com possíveis comportamentos dos atletas, que fogem aos dogmas da Igreja, o treinador é peremptório: “ Coitado do treinador! Ninguém vai contra os dogmas, pois o trabalho que eles estão a realizar é de dedicação, esforço e paixão. Por isso, não vejo qualquer maldade nos atletas. Em suma, quando há honestidade no trabalho não existem maus comportamentos. Mas afirmo, dentro de campo sou treinador e não padre”, retorquiu o sacerdote, num tom acolhedor e sorridente.
António Aires não se preocupa com o que a Igreja pensa, mas sim com o que ele defende. Até porque a Igreja não é só a sua hierarquia, mas o povo de Deus, ou seja, as pessoas mais simples. O seu cargo de treinador é um testemunho. “Como uns gostam de caçar, dançar, viajar, eu gosto de futsal e do desporto em geral”, sublinhou o técnico.
A demanda do Santo G. Desportivo Macedense
Com um jornal desportivo na mão, o padre dá a perceber que os jogadores o respeitam como pessoa, não como sacerdote, e que só o respeitarão como padre numa das suas paróquias.
António Aires quer conduzir o seu rebanho, ou melhor a sua equipa, até à manutenção na 2ª divisão maior do futsal. Contudo, reconhece que os objectivos podem ser redefinidos, caso o GDM trabalhe exaustivamente para ganhar e os deixarem vencer.
Outra grande meta do clube é trabalhar bem ao nível da formação, para que, a médio-prazo, esta instituição tenha capacidade para viver por si própria. O trabalho na base é o futuro do clube.
Refira-se, que a colectividade é apoiada financeiramente, quase por inteiro, pela Câmara de Macedo de Cavaleiros (CMMC) e alguns patrocínios da gente do concelho. A CMMC é incansável no apoio ao futsal da terra, pois confia plenamente nos propósitos do GDM.
Este romance de Futsal recomenda-se para quem quer fazer da modalidade algo digno e útil numa região.